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Horácio (filme)
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Horácio

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

Horácio é uma raro filme de humor negro brasileiro.

Num país onde a comédia possui fortes raízes nas chanchadas dos anos 1950 produzidas pela Atlântida, Horácio arrisca no humor negro. É um gênero raro em nossa cinematografia, visto que nosso público prefere a gargalhada ao sorriso nervoso, que é o que se busca no filme. Afinal, a sua estória acontece em um ambiente de crime e violência, onde o comportamento patológico de seu protagonista dá o tom de perigo iminente que ameaça todos ao seu redor.

Horácio, vivido pelo veterano ator de teatro Zé Celso, é um velho traficante gay que está sendo procurado pela polícia federal. Vive em uma cobertura no tradicional bairro do Bixiga. Lá, mantém sua filha de 40 anos, Petula (Maria Luisa Mendonça), presa em seu quarto, muitas vezes algemada. Quem garante que ela continue trancafiada, muitas vezes usando a violência, é seu capanga Milton (Marcelo Drummond), que também mora no apartamento e por quem Horácio é apaixonado. Enquanto Horácio planeja fugir para o Paraguai, Petula arma sua fuga com seu namorado Faraó, um malandro de segunda classe perseguido por dívida de jogos.

Humor negro

Esse universo de intrigas, roubos e assassinatos em tom de humor negro, remete a filmes como A Honra do Poderoso Prizi (1985), de John Huston, e obras dos irmãos Coen, como Gosto de Sangue (1984). A trilha sonora ameniza a violência, que não é explícita, mas se sente presente o tempo todo. Principalmente, por causa do ameaçador Horácio, atormentado pelo desejo sexual não atendido pelo seu empregado. Por isso, sua frustração é canalizada para a misoginia que coloca como vítima sua própria filha. O protagonista é tão psicopata que chega ao extremo de pedir a Milton que mate um desafeto seu e lhe traga partes mutiladas de seu corpo.

O ator Zé Celso não foge de suas influências teatrais em sequências que pontuam o humor negro. Por exemplo, quando Horácio dubla a música “Se eu Fosse Mulher”, composta especialmente para o longa-metragem e interpretada pelo cantor Pélico. Muitas vezes travestido de mulher, Zé Celso transmite um incômodo constante que resulta na loucura de seu personagem. Ao mesmo tempo, ele é perigoso e frágil, incapaz de impor suas ordens ao seu empregado, à medida que se sente enfraquecido pela sua paixão obsessiva.

Direção de Mathias Mangin

Mathias Mangin marca com Horácio sua estreia em longa-metragem de ficção assumindo várias funções: roteiro, direção, edição e produção. Como diretor, resgata na sequência inicial a câmera na mão do Cinema Novo para ilustrar a visão subjetivo do personagem observando um helicóptero sobrevoando o apartamento, com esse objeto fora de plano e com cortes abruptos. Por outro lado, Mangin comunica ao público que Horácio está apaixonado pelo seu capanga através de flashes rápidos que transitam para suas fantasias sexuais com ele. Em uma sequência posterior, fugindo do lugar comum, prefere mostrar a passagem do tempo pela aceleração do filme (talvez repetindo o que Stanley Kubrick fez genialmente em Laranja Mecânica em 1971) ao invés do tradicional “dissolve”.

O roteiro acerta em colocar uma sequência inicial no presente que servirá de ponto de chegada para a estória que será contada no filme, voltando alguns dias no tempo. Porém, esse recurso não impede de o filme perder o ritmo e não entendermos para onde a estória se dirige. Afinal, essa sequência de abertura não instiga o bastante para aguçar a curiosidade do público, e assim servir como fio condutor da narrativa. Além disso, o filme perde tempo apresentando muitas imagens aéreas do bairro sem necessidade. De fato, nem Horácio nem o espectador acreditam que a polícia federal esteja cada vez mais perto de o prender, o que justificaria uma fuga imediata para o Paraguai.

Tramas paralelas

Ademais, há um excesso de tramas paralelas ocorrendo na parte inicial. Elas confundem o espectador, que demora para diferenciar quem é o capanga, o namorado da filha e o homem para quem ele deve dinheiro. Aliás, esse personagem secundário sobra no roteiro, como toda essa subtrama da dívida do malando que namora Petula. Por outro lado, a outra subtrama, a do flerte de Milton pela garota que só conhece pela internet se encaixa perfeitamente na resolução da estória. Não só quanto ao destino dos personagens principais. Mas, também, para ironizar a rejeição de Milton às investidas de seu patrão. E, também, sua aceitação da condição surpresa da namorada virtual.

Em suma, Horácio se destaca entre os lançamentos nacionais por arriscar no humor negro. Porém, sofre por perder o ritmo, principalmente por causa de uma subtrama desnecessária. Além disso, as sequências teatrais solos de Zé Celso podem desagradar espectadores de cinema.

Leia a entrevista do diretor Mathias Mangin sobre o filme Horácio.


Ficha técnica:

Horácio (2019) Brasil. 86 min. Dir/Rot: Mathias Mangin. Elenco: Zé Celso, Maria Luisa Mendonça, Marcelo Drummond, Glamour Garcia, Ricardo Bittencourt, Sylvia Prado, Glamour Garcia e Eucir de Souza.

Distribuidora O2 Play

Trailer:
Onde assistir:
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