Quando só existia TV aberta, o filme que assistiríamos era aquele que a emissora escolhia para exibir. Nessa época, películas mais maduras e de temas delicados eram vistas tanto quanto as mais divertidas e escapistas. Hoje, com a possibilidade de se escolher o que se deseja ver, esses filmes mais sérios e até difíceis para se assistir são preteridos. Tráfico de Órgãos, já pelo seu título, não seria uma das opções mais populares. Infelizmente.
Para começar, Tráfico de Órgãos coloca o espectador numa situação em que ele reza para nunca estar. Afinal, ficar na lista de espera de doação de um órgão que é a única solução para salvar a vida de uma pessoa amada deve ser um pesadelo. E o filme mostra que esse pesadelo pode se tornar ainda mais amargo quando se busca uma alternativa ilegal para a doação. Enfim, este é o caminho tomado pelo casal Paul e Diane Stanton, que decidem comprar o pulmão que sua filha Chloe necessita para sobreviver.
Descida ao inferno
Então, Paul (Dermot Mulroney) viaja até o México e se envolve com gente da pior espécie. Apanha física e mentalmente, mergulha no inferno da podridão e leva o espectador com ele. Assim, vai descobrindo que as coisas são muito mais sujas do que poderia prever. Na verdade, terrivelmente mais doloroso do que traficar drogas. Afinal, não existe um estoque de órgão esperando o próximo cliente.
No final do filme, o personagem precisa fazer uma escolha, literalmente, de vida ou morte. E Tráfico de Órgãos escancara claramente sua posição, e não deixa brechas para nenhum final aberto. Ao espectador, nenhuma chance para pensar o que faria se estivesse no lugar de Paul.
Tráfico de Órgãos é um filme curto, direto, forte e sem meio-termo, dirigido pelo jovem diretor islandês Baltasar Kormákur (de “Contrabando” e “A Fraude”). Se você pretende assistir este filme antes de dormir, cuidado, pois poderá passar a noite com insônia.
