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Interlúdio (filme)
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Interlúdio

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Interlúdio é aquele filme de espionagem de Alfred Hitchcock cuja história se passa no Rio de Janeiro. É onde Alicia (Ingrid Bergman) se infiltra num grupo de nazistas foragidos, alguns amigos de seu pai, para desmascará-los a serviço dos governos brasileiro e estadunidense. Quem a recruta, ainda nos EUA, é o agente federal Devlin (Cary Grant). Durante esse processo, os dois se apaixonam, o que torna ingrata a missão de Alicia, pois ela terá que seduzir o alemão Sebastian (Claude Rains) e até se casar com ele.

Interlúdio reserva os momentos de suspense para seu último terço. Durante o restante do filme, acompanhamos o romance atribulado de Alicia e Devlin, relacionamento que se complica gradativamente com o avanço da missão de espionagem. Atuando juntos pela primeira vez, Cary Grant e Ingrid Bergman esbanjam sensualidade nas cenas de amor. Em especial nos beijos que trocam no quarto de hotel no Rio.

Com astúcia, Hitchcock dobra o código de ética dos estúdios respeitando o tempo máximo em que os lábios podem se tocar. Dessa forma, cria um clima ainda mais quente em um plano sequência onde os dois não conseguem se desgrudar. O diretor filma em plano muito próximo para que o espectador compartilhe da intimidade do casal. Eles conversam longamente com os lábios separados por poucos centímetros.

O gênio do suspense

Nos momentos de suspense, Hitchcock como sempre é genial. No grande salão central do casarão de Sebastian, a câmera posicionada no alto da escadaria filma um plano geral da festa. Então, desce em outro plano sequência, até se aproximar de Alicia e do detalhe de sua mão, que esconde a chave da adega onde os nazistas escondem um material secreto. A visita que ela e Devlin fazem a esse porão, em busca desse segredo, é marcada pelo tempo que se esgota até que o garçom desça até lá quando acabarem as garrafas de champanhe da festa. Enquanto os dois bisbilhotam o local, o espectador acompanha a quantidade de garrafas que sendo consumidas, como se fosse um cronômetro em contagem regressiva.

Hoje vemos claramente como a história de Interlúdio era ousada para sua época, mais avançada que o padrão água-com-açúcar de Hollywood. Não há o costumeiro maniqueísmo dos personagens principais. Alicia, Devlin e Sebastian não são simplesmente bons ou maus. O vilão Sebastian é uma vítima das mulheres. Sua mãe dominadora o trata como criança e Alicia o seduz com facilidade e usa o amor sincero dele para cumprir friamente sua missão.

Briga com a mãe

Quando Sebastian entra no quarto de sua mãe e discute com ela após fechar a porta, lembra o personagem de Anthony Perkins brigando com sua mãe em “Psicose” (Psycho, 1960).  Devlin também ama Alicia, mas a julga como uma mulher desonrada e alcoólatra.Ou seja, a “notorious” do título original (muito mais apropriado do que a tradução incompreensível para “Interlúdio”), opinião agravada quando ela precisa seduzir e se casar com Sebastian.

E, finalmente, Alicia é uma mulher moderna, que mantém um estilo de vida libertário, com autonomia total em relação a bebidas e sexo. A complexidade de sua personalidade vem do fato de seu pai ser nazista, o que motivou o rompimento entre os dois. A frieza com que Devlin a empurra para cima de Sebastian se assemelha ao posterior filme “O Desprezo” (Le Mépris, 1963), de Jean-Luc Godard.

Intelúdio ainda carrega traços da relação incompatível de Hitchcock com o David Selznick, que o alugou à RKO, produtora desse filme. O diretor inglês ainda se adaptava ao cinema de Hollywood. Por isso, exagera na quantidade de diálogos, responsáveis pelo ritmo vagaroso da primeira metade, que é salva pelo clima romântico criado pelo casal de atores principais. Interlúdio tem alguns momentos brilhantes, mas não chega perto de seus melhores filmes.


Interlúdio (filme)
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