Jockey se mantém dentro dos limites do filme independente estadunidense. Como é comum nesse tipo de produção, seu orçamento restrito não permite nomes famosos no elenco. Mas aqui o trio de atores principais – o jovem Moises Arias e os experientes Clifton Collins Jr. e Molly Parker – fazem um belo trabalho neste drama que quer provocar a reflexão e, para isso, depende das suas atuações.
A trama acompanha o ocaso da carreira de Jackson Silva (Collins Jr.), um jockey veterano que enfrenta problemas de saúde. Ele tenta persistir porque não quer parar, mas também para ajudar a amiga e treinadora Ruth Wilkes (Parker), que acaba de comprar um cavalo com potencial de ser vencedor. A fim de enriquecer esse enredo simples, o roteiro inclui a chegada de Gabriel (Arias), um aspirante a jockey que alega ser filho ilegítimo de Jackson. Esses elementos se entrelaçam com consistência e, por fim, conduzem a um desfecho inevitável. Uma música divertida embala a conclusão, dando a entender que Jackson aceita sua situação nova.
Adicionalmente, a narrativa toca também na questão social, em relação à ingrata profissão dos jockeys. Ao final de cada corrida, o vencedor é o cavalo e não quem o monta. Apesar disso, o cavaleiro precisa se sujeitar a uma preparação física extenuante. E o mais grave é que todos sofrem quedas durante a carreira, cujos efeitos se agravam conforme eles envelhecem. Aliás, é esse o caso do protagonista Jackson.
A direção
Contudo, esse roteiro finamente articulado não garante que Jockey seja um grande filme. Temos que analisar também a estreia de Clint Bentley na direção de longas-metragens. E, talvez para emular o celebrado indie film Songs My Brothers Taught Me (2015), de Chloe Zhao, vencedora do Oscar por Nomadland (2020), e, assim, agradar nos festivais, Bentley abusa das tomadas com o sol poente ao fundo. É verdade que o crepúsculo também serve como símbolo dessa fase da vida do protagonista, mas essa composição visual se repete tantas vezes que desconfiamos que reflita a limitação de recursos do diretor.
Somando a isso o uso excessivo da câmera na mão, dos close-ups extremos e da fotografia escurecida, parece ser esse o diagnóstico mais provável em relação a esse cineasta. Que, no entanto, está em início de carreira, e que ainda merece elogios por ser o coautor deste roteiro. Com certeza, ele sabe lidar com orçamento limitado. Afinal, usa a criatividade ao filmar o close-up do jockey durante uma corrida, evitando ter que captar uma cena com vários atores e cavalos numa pista. Enfim, sua jornada se aproxima à de Gabriel e não à de Jackson. Vamos acompanhar.
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Ficha técnica:
Jockey | 2021 | EUA | 94 min | Direção: Clint Bentley | Roteiro: Clint Bentley, Greg Kwedar | Elenco: Clifton Collins Jr., Moises Arias, Molly Parker, Logan Cormier, Vincent Francia, Marlon St. Julien, Danny Garcia.
Distribuição: Sony.