Aos olhos de 2025, Jogos de Guerra (War Games) alinha a nostalgia dos computadores da década de 1980 com o perigo da guerra nuclear que novamente assusta o mundo.
O filme começa com uma introdução longa e absolutamente séria, salvo algumas provocações entre os personagens em cena, que servem como alívio cômico. É um pedágio necessário para a narrativa. Explica como agiriam aqueles que possuem a responsabilidade de apertar o botão de lançamento de uma míssil nuclear em caso de guerra.
Mais detalhes surgem quando a trama se inicia de fato. Desta vez, na sede da NORAD, o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte. Com um abrangente movimento da câmera, o diretor John Badham mostra a enorme sala de guerra. Nesse war room, várias telas imensas monitoram possíveis ataques soviéticos. Depois que uma simulação desastrosa aponta o risco das falhas humanas, o governo dos Estados Unidos decide implantar a WOPR (War Operation Plan Response). Este é um computador que toma decisões de resposta a uma agressão nuclear inimiga. Em outras palavras, algo similar ao HAL – de 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), de Stanley Kubrick – com resultados tão catastróficos quanto.
O contraponto
Essa seriedade toda é quebrada, o que faz muito bem para o filme, com a entrada dos personagens David e Jennifer. Eles são jovens de 17 anos que estudam juntos no colegial, interpretados por Matthew Broderick e Ally Sheedy antes de ficarem famosos, mas já esbanjando carisma e presença na tela. Broderick, de fato, parece até um veterano, interpretando com segurança o seu personagem nerd que é um hacker. Entre suas invasões, está o sistema de notas da escola, no qual consegue melhorar a sua avaliação.
No entando, por acaso, David acaba acessando o WOPR do governo. Pensando se tratar de um vídeo game, começa a jogar do lado da União Soviética. O problema é que o computador aciona os verdadeiros mísseis americanos para contra-atacar. Então, para evitar o início da terceira guerra mundial, David e Jennifer vão atrás do criador do WOPR, que se tornou um recluso.
Um contador de tempo marca o quanto resta para os Estados Unidos lançarem os seus mísseis contra alvos soviéticos, incrementando o suspense que cresce a cada minuto. A sequência final, assim, se torna eletrizante, um feito notável de direção visto que a ação se passa dentro do war room e corresponde a apertar ou não um botão.
Uma mensagem de paz
O inteligente roteiro de Lawrence Lasker e Walter F. Parkes, indicado ao Oscar, transforma essa trama numa bela mensagem de paz. Tomando como base o fato de o computador WOPR se recusar a jogar o jogo da velha porque sua disputa sempre resulta em empate, o jogo da terceira guerra mundial também produz o mesmo efeito. Ou seja, se os Estados Unidos e a União Soviética resolverem se atacar, nenhum dos lados vence, pois após o primeiro lançar seus mísseis, imediatamente o inimigo lançará os dele. Portanto, não haveria vencedores – na verdade, apenas perdedores.
É uma lição e tanto, que deve ser relembrada agora novamente, quando as grandes potências mundiais parecem ter se esquecido do motivo que impediu uma nova guerra mundial até o momento.
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Ficha técnica:
Jogos de Guerra | War Games | 1983 | 114 min. | EUA | Direção: John Badham | Roteiro: Lawrence Lasker, Walter F. Parkes | Elenco: Matthew Broderick, Dabney Coleman, John Wood, Ally Sheedy, Barry Corbin, Juanin Clay, James Tolkan.