O filme chileno Jovem Aloucada retrata o drama de uma blogueira que sofre com a repressão sexual imposta pela sua mãe evangélica.
A estória
Daniela Ramírez tem 17 anos e abre um blog para extravasar o que não pode falar em casa. Ou seja, o principal assunto é sexo. O tema é tabu na família evangélica, e já provocou a fuga da irmã mais velha, que se casou com um americano. Aliás, quando sua escola descobre que Daniela transou com um menino, ela é expulsa. Então, para não ser enviada numa expedição missionária no Equador, Daniela vai trabalhar como estagiária num canal de televisão evangélico. Porém, lá se apaixona por um rapaz e por uma garota.
A estória se passa num passado recente, o que fica óbvio pelos aparelhos celulares que aparecem no filme. Na época, os blogs bombavam, e o de Daniela, que tem o nome “Joven y Alocada”, possui muitos seguidores ativos. Eles comentam constantemente as publicações picantes da blogueira, que não esconde todas as suas aventuras sexuais.
Esta é a estreia da diretora Marialy Rivas em longas-metragens. Jovem Aloucada evidencia sua busca por uma linguagem moderna, em alinhamento com o tema do filme. Isso fica evidente nas sequências iniciais, já que elas reúnem a narração despojada da protagonista, com suas ilustrações pornográficas e planos curtíssimos. Adicionalmente, os seguidores aparecem na tela falando os seus comentários, alguns de baixaria, outros de apoio.
Ousadia
Jovem Aloucada possui cenas ousadas, mas que se equiparam com as produções atuais. Nagisa Oshima chocou o mundo ao apresentar a imagem do pênis ereto num filme de arte, em O Império dos Sentidos, em 1976. Marialy Rivas faz o mesmo, mas agora sem chocar, salvo os espectadores mais conservadores. E, ainda, inclui cenas de lesbianismo e masturbação, com os correspondentes comentários da personagem.
Porém, não parece ser a intenção da diretora causar polêmica com essas cenas. O que o filme busca é evidenciar o contraste entre a liberalidade da protagonista e o conservadorismo extremo da mãe. E, sim, criticar essa rigidez da religião evangélica. Aliás, se não houvesse esse tom crítico, o filme renegaria a sua origem, que é um blog real. De fato, assim atesta a cena final, em que as duas filhas, expulsas da família, observam de longe o enterro de uma parente querida. Sem necessidade de comentários, a imagem por si só é uma crítica contundente.
Por fim, o ritmo rápido de Jovem Aloucada não decorre somente do estilo visual moderno, ou seja, dos desenhos, dos comentários filmados, dos planos curtos etc. Na verdade, a agilidade vem da própria personagem principal, que, além de carismática, nunca se acomoda. Além disso, também de algumas escolhas da diretora. Por exemplo, ela tira o som da briga na praia de Daniela com o namorado, e demonstra a sua reação aos tapas da mãe através de fotos.
Jovem Aloucada indica o surgimento de uma diretora com muita garra e apreço pela fonte original de seu roteiro. Por isso, esse filme ganhou prêmios no Sundance Film Festival e no San Sebastián International Film Festival.
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Ficha técnica:
Jovem Aloucada (Joven y Alocada) 2012. Chile. 96 min. Direção: Marialy Rivas. Roteiro: Marialy Rivas, Pedro Peirano, Sebastián Sepúlveda, Camila Gutiérrez. Elenco: Alicia Rodríguez, Aline Küppenheim, María Gracia Omegna, Felipe Pinto, Alejandro Goic.
