Jung_E abusa da computação gráfica, que deixa todo o seu visual com um pé na animação. Facilita para os realizadores, que pode economizar as verbas dos efeitos práticos e dos cenários. Já para os espectadores, esse recurso só funcionaria com cenas de ação eletrizantes e uma história envolvente. Mas nada disso está presente nessa produção sul-coreana da Netflix.
Logo de cara, o filme engana o espectador. Na tela, uma soldada enfrenta robôs heroicamente, numa cena repleta de tiros e explosões. Mas, ao final descobrimos que isso tudo é apenas uma simulação em realidade virtual. Na verdade, essa personagem é uma celebrada mercenária ferida em combate e que agora está em estado vegetativo. Assim, o que vimos não passa de um teste para o clone dela com inteligência artificial, num projeto comandado pela sua filha, 35 anos depois da tragédia. Após essa rasteira no público, as cenas de ação só retornam com força no epílogo.
Um drama de intrigas
Assim, durante todo esse meio-tempo, Jung_E se desenrola vagarosamente como um drama de intrigas. Nada prende a atenção, principalmente os personagens. A protagonista é a filha, que não é nada carismática. Sempre sisuda, não são as piadas do colega bobalhão que arrancarão a carranca de sua fisionomia. Além disso, suas motivações são inadvertidamente questionáveis. Ela quer tanto ver essa versão clonada da mãe em operação, que fica até triste quando o CEO de sua empresa anuncia que a guerra acabou. Se o filme fosse da Coreia do Norte, até poderíamos entender esse viés belicista, mas não é o caso.
O diretor Sang-ho Yeon fez antes incursões que receberam aprovação popular, como Invasão Zumbi (Busanhaeng, 2016) e sua sequência de 2020. Porém, aqui faz um trabalho pouco inspirado. Chega até a colocar várias cartelas para explicar que a história se passa num futuro no qual a Terra está tomada pelos mares, e agora vive em abrigos que orbitam ao redor do planeta. Logo depois, durante uma apresentação corporativa do projeto, tudo isso é repetido. Então, por que perder tempo com aquelas cartelas irritantes?
Jung_E queria ser um Robocop (1987) potencializado com a ideia dos clones. Mas falha miseravelmente.
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Ficha técnica:
Jung_E | 2023 | 98 min | Coreia do Sul | Direção e roteiro: Sang-ho Yeon | Elenco: Kang Soo-youn, Kim Hyun-joo, Ryu Kyung-soo, Uhm Ji-won.
Distribuição: Netflix.