La Casa de Papel é uma série espanhola disponível na Netflix sobre uma ousada invasão da Casa da Moeda em Madri. Já tem três temporadas disponíveis, e a quarta anunciada para ser produzida.
Na série, o plano do genial líder, o “Professor”, é manter reféns os visitantes e funcionários do local durante vários dias. Dessa forma, terá tempo para imprimir uma enorme quantidade de notas de euros. O Professor monitora a execução de longe, enquanto sua quadrilha, treinada por ele durante vários meses, está lá dentro com os reféns. Porém, nem tudo sai como planejado, e o plano corre risco de não dar certo.
O grande sucesso de La Casa de Papel parece sobrestimado. A expectativa de uma trama mirabolante cai por terra quando percebemos que o plano do Professor possui vários pontos fracos. E, apesar da preparação que durou vários meses, na prática os membros da gangue se perderam.
Ideias perdidas
A impressão que temos é que a ideia que deu origem à série possuía um golpe com elementos geniais que se encaixariam como peças de um quebra-cabeças. Porém, à medida que o roteiro foi sendo escrito, essas ideias foram se esvaziando. Por exemplo, é muito inteligente a sacada de os bandidos e os reféns vestirem macacão vermelho e máscara de Salvador Dalí para que os policiais não consigam identificar a qual grupo cada um pertence. Aliás, esse figurino se tornou icônico no universo da cultura pop.
Contudo, a estória se perde em meio a exagero no enfoque dos relacionamentos interpessoais dos personagens. Isso interfere no ritmo da série, pois a todo momento a ação é interrompida por um flashback da época do treinamento para o golpe. Quando a pausa remete ao momento específico em que o Professor explica uma parte do plano e esta mesma parte está sendo executada, a interrupção procede e aumenta o interesse do espectador, que pode acompanhar se a execução seguirá o planejado.
Na maior parte das vezes, entretanto, o flashback cai no envolvimento pessoal entre os membros da quadrilha, sem relação nenhuma com a ação atual dentro da Casa da Moeda. Aí essa desaceleração atrapalha.
Perdido nos romances
A narrativa se perde ao se render à exploração apelativa de variados romances entre os personagens. São improváveis relacionamentos entre os membros da gangue, entre os reféns, entre reféns e bandidos, e entre estes e a polícia. Parece até que o objetivo do roteirista foi completar todas as combinações possíveis de relacionamento entre os grupos. Faltou apenas juntar um policial com um refém para exaurir todas.
Na verdade, a ênfase nos romances pode até ter a intenção de aprofundar os personagens, mas truncam o andamento da narrativa de uma forma artificial. Afinal, num assalto com potencial de milhões de euros, cerco policial, dezenas de reféns, e bandidos que disputam o poder, se torna absolutamente improvável que vários romances surjam repentinamente, durante o curto período de confinamento.
E, se os personagens que interpretam os integrantes da quadrilha disputam entre si quem manda mais, os atores que os interpretam parecem concorrer pela atenção do público. As atuações exageradas deixam suspeitas sobre essa intenção. Reparem como a atriz Úrsula Corberó se contorce toda, seminua, para mostrar a beleza de seu corpo num momento de extrema tensão, enfrentando a polícia, quando essa seria a última preocupação de uma pessoa nessa situação.
Enfim, o apelo comercial funcionou. La Casa de Papel virou fenômeno mundial. Porém, muito mais pelo esforço de marketing do que pelos méritos da série. Uma forte evidência disso é a música “Bella Ciao” que virou tema da série – e que só tem uma pequena participação na estória; ou seja, ganhou fama mais pela divulgação do que pelo contexto.
Ficha técnica:
La Casa de Papel (La Casa de Papel, 2017-2020) Espanha. Episódios de 70 min. Criado por Álex Pina. Elenco: Úrsula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Pedro Alonso, Alba Flores, Miguel Herrán, Jaime Lorente, Esther Acebo, Enrique Arce, Darko Peric, Mario de la Rosa, Paco Tous, Kiti Mánver, María Pedraza, Aitana Rinab, Clara Alvarado.