O diretor de Lantana (também conhecido como “Floresta de Lantana”) parece brincar com o espectador. Até sua própria carreira parece evitar conclusões precipitadas. O que motiva um cineasta a realizar apenas mais dois filmes depois de sua estreia com Viva Enquanto Puder (Bliss, 1985)? E que, após Jindabyne (2006), não produziu mais nada, nem mesmo um roteiro?
Fico com a impressão de que seu modo de viver se reflete em Lantana. Nesse filme, Lawrence lança pistas que nos levam a deduções erradas, como se o autor nos ironizasse. Quem somos nós para acharmos que sabemos todas as respostas a partir de alguns indícios obviamente insuficientes? Mesmo na definição do gênero do filme, já nos enganamos. Afinal, não se trata de um suspense, apesar de trazer uma morte misteriosa investigada pelo protagonista Leon (Anthony LaPaglia), que é um policial. Em essência, o longa é um drama, e não um suspense. O que importa em sua trama são os personagens e seus relacionamentos, e não o provável crime, que só acontece na metade do filme. A trilha musical, tocada no piano, reforça o drama e não o mistério.
Mas a isca para nós já anteciparmos um crime vem no flash forward aqui apropriadamente utilizado. Enigmático, o trecho acompanha a câmera avançando sobre um arbusto cada vez mais denso (do gênero lantana, daí o título), em plena luz do dia, para revelar o cadáver de uma mulher. Lembramo-nos de Veludo Azul (Blue Velvet, 1986), de David Lynch, com a orelha caída no gramado. Só na parte final descobriremos quem é essa mulher morta.
Improvável, não impossível
Não há indícios de humor em Lantana, por isso, não pensamos em sarcasmo quando o roteiro apresenta várias coincidências que cruzam os destinos dos vários personagens, cujas vidas pessoais conhecemos profundamente durante a primeira hora de exibição. Embora altamente improváveis, não podemos descartar como impossíveis. Mas nada surge por acaso, Ray Lawrence lança as peças que nós encaixamos em uma lógica premeditadamente errada, enganados pelas nossas experiências pessoais, nossos preconceitos e até nossa bagagem cinéfila. Assim, a vegetação do título marca presença também na frente da casa de um dos suspeitos; a vizinha dele aprende a dançar um ritmo latino porque provavelmente está interessada nele; etc.
E, da mesma forma, o policial e outros personagens caem nos mesmos erros. Ele, Leon, desconfia do marido, pois as estatísticas mostram que o marido costuma ser o culpado. A psicóloga Valerie (Barbara Hershey) deduz que o paciente gay está tendo um caso com seu marido, que está desinteressado nela. E, quando ela pega uma carona à noite com um estranho, teme sofrer o mesmo destino de sua filha pequena.
Nesse jogo de falsos julgamentos, Lantana revela sua sutil inteligência; sua trama nos faz refletir sem precisar recorrer ao pedantismo.
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Ficha técnica:
Lantana | Lantana | 2001 | 121 min | Austrália, Alemanha | Direção: Ray Lawrence | Roteiro: Andrew Bovell | Elenco: Anthony LaPaglia, Geoffrey Rush, Rachael Blake, Kerry Armstrong, Manu Benett, Melissa Martinez, Barbara Hershey, Owen McKenna, Nicholas Cooper, Marc Dwyer, Leah Purcell, Peter Phelps.