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Leme do Destino (filme)
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Leme do Destino | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Josie Antello e Simone Spoladore conversam numa mesa branca de bar na frente de uma grande parede de tijolos marrons claros (ou beges escuros). Uma tomada de eletricidade se vê no canto inferior esquerdo da tela. Há mais luz no lado direito, onde está Spoladore. E a mesa também está localizada mais à direita do que no centro do plano, quebrando uma simetria.

Não é um plano feio, mas é um tanto estranho. O filme é Leme do Destino, o último de Júlio Bressane, logo após o mastodôntico filme-súmula A Longa Viagem do Ônibus Amarelo (2023), este codirigido por seu montador habitual dos últimos anos, Rodrigo Lima. A esta altura, após uma tremenda carreira devidamente passada a limpo, Júlio Bressane não está muito preocupado com a beleza do plano, se é que um dia esteve. O mestre atingiu o ponto, já alguns filmes antes, em que a liberdade é total.

Antello faz uma nova educação sentimental. Cita O Gerente (2011), último longa de Paulo Cesar Saraceni, enquanto imita um coelho com a mão próxima à câmera. Spoladore, como Antello, nasceu para ser atriz de Bressane. Mas diferentemente de sua companheira de elenco, nunca havia estado em um filme dele. Nunca é tarde.

Sempre ensaístico e retrospectivo, em um momento de Leme do Destino, Bressane faz um ensaio sobre modos de andar. Não tem vergonha de fazer um enquadramento tortuoso na cena em que as mulheres caminham trôpegas por terem bebido demais. E tem coragem para fazer outros enquadramentos tortuosos ao longo do filme.

Filme de amor. As duas se amam. Pedalam. Numa ação invertida que tantas vezes vimos nos filmes de Bressane, o jogo de xadrez é formado a partir das peças derrubadas. Xadrez com o público.

Matou a Família e Foi ao Cinema. As duas assombradas por coisas numa casa (a mesma do filme de 1969?). Filme-súmula, de novo. Desta vez com 72 minutos, não com mais de 7 horas. Nas duas opções, o gênio se revela.

Milhares de ideias se sucedem. Cenas de sexo não são parecidas como as que vemos normalmente no cinema. Metáforas sexuais se espalham pelas cenas. Não é possível prever o que vem a seguir, característica comum a todos os seus filmes.

Não me lembro de Bressane ter chegado tão perto de fazer uma comédia romântica. Claro, à sua moda. Mas é curiosa essa proximidade vinda de um diretor como ele. Spoladore olha para o atendente do boteco. Ele olha de volta, meio tímido e intimidado. Logo depois, estão de mãos dadas passeando pelo Leme, diante do olhar enciumado de Antello.

Não há maiores consequências nesse triângulo amoroso. Os dois se amam sem trocar palavras. Só abraços e beijos. Vemos Bressane simplesmente pensando em outras maneiras de trabalhar em cima de terreno conhecido, não necessariamente visitado por ele. Algum enigma sempre permanece.

O andar sorumbático de Antello. Poeira nos olhos do público. Imagens do outro lado do mundo. Os olhares misteriosos de Spoladore, sua melancolia. A caminhada no calçadão à beira-mar. Beijo. Terá sido um sonho?

Este texto não tem spoilers, pois um filme desses rejeita spoilers. Ou se aceita toda a experiência, ou se rejeita por completo. Não é este filme que lhe trará novos admiradores. Mas falamos do maior cineasta brasileiro em atividade.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Leme do Destino | 2023 | 73 min. | Brasil | Direção e roteiro: Júlio Bressane | Elenco: Simone Spoladore, Josie Antello, Debora Olivieri, João Vitor Silva.

Leme do Destino (filme)
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