“Livre”: Uma trilha para colocar de volta ao rumo
O filme Livre conta a história real de Cheryl Strayed, que percorreu sozinha a Pacific Crest Trail, na costa oeste norte-americana, indo da fronteira com o México até o Canadá.
Cheryl resolveu encarar esse desafio quando se sentiu totalmente sem rumo na vida. Sua mãe morrera, seu casamento acabara, vivia se drogando com heroína e fazia sexo constantemente com qualquer um.
Contudo, sem se preparar devidamente, partiu com uma mochila pesadíssima, cheia de itens desnecessários. Sob o sol escaldante do deserto de Mojave, logo nos primeiros metros já se arrepende de sua decisão e deseja desistir. Porém, segue em frente, anotando no caderno que fica em cada ponto de parada uma frase tirada de livros. Assim, supera vários obstáculos, e, conforme encontra outros caminhantes, percebe que muitos já a conhecem, por ser uma das poucas mulheres a enfrentar essa difícil jornada. Fome, sede, sujeira, insegurança, representam as dificuldades físicas, mas, acima delas, Cheryl precisa resolver seus dilemas internos.
Narrativa não-linear
O diretor canadense Jean-Marc Vallée optou por contar a estória de forma não-linear, o que foi um grande acerto. A primeira cena mostra um momento dramático durante a travessia, e rápidos flashes do passado fazem a transição para o início da jornada. Enquanto Cheryl (Reese Witherspoon) percorre a trilha, o filme insere cenas do passado, da infância até a atualidade. Entendemos como sua mãe (Laura Dern) representou uma figura essencial em sua vida. Então, quando ela faleceu, isso detonou o espiral descendente que a sugou para os níveis mais baixos de uma existência autodestrutiva. Dessa forma, o filme nunca perde o interesse.
É a melhor interpretação da carreira de Reese Witherspoon, superior à de Johnny & June (Walk the Line, 2005), pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Atriz. Com muita coragem, Reese se despe de maquiagens e de suas roupas para entregar uma Cheryl visceral, como a personagem exige. Muitas vezes se encontra solitária na tela, com ou sem voice over, usando sua expressão facial para demonstrar o drama físico e, o que é mais desafiador, interno.
Da mesma forma, Laura Dern, interpretando sua mãe, também se destaca em um papel igualmente dramático. Esposa de um alcoólatra abusivo, Bobbi se dedica aos filhos, transformando-os em seu objetivo principal, o que lhe dá forças para esquecer as adversidades.
Em suma, “Livre” transmite ao espectador a experiência do desafio superado que fortalece o espírito, colocando no rumo aquele que perdeu o caminho na trilha da vida.
Ficha técnica:
Livre (Wild, 2014) 115 min. Dir: Jean-Marc Vallée. Rot: Nick Hornby. Com Reese Witherspoon, Laura Dern, Gabby Hoffman, Thomas Sadoski, Keene McRae, Michiel Huisman, W. Earl Brown, Kevin Rankin, Brian Van Holt, Cliff De Young, Mo McRae, Will Cuddy, Leigh Parker, Nick Eversman, Ray Buckley, Cathryn de Prume.
Leia também: crítica de “Big Little Lies”
Assista: entrevista com Jean-Marc Vallée
