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Lola e o Mar (filme)
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Lola e o Mar

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

Lola e o Mar (Lola vers la mer) trafega pelo batido caminho do road movie transformador. Lembra o filme que o Brasil indicou para concorrer ao Oscar deste ano, Deserto Particular (2021). Porém, o segundo longa do diretor belga Laurent Micheli prefere a discrição, e sua sensibilidade alcança com mais facilidade o público. Não tem como não nos identificarmos com a protagonista Lola (Mya Bollaers), uma jovem trans de 18 anos expulsa de casa pelo pai, que não aceita sua transgeneridade. Por isso, ela vive em um abrigo, contando com o apoio do amigo Samir (Sami Outalbali), e, também da mãe, que o visita sem que o marido saiba.

O pretexto para a viagem de Lola com seu pai Philippe (Benoît Magimel) é a repentina morte da mãe. O desejo dela era que suas cinzas fossem espalhadas no mar em frente à casa de praia da família. Assim, a contragosto dos dois, eles pegam a estrada, sempre discutindo durante o trajeto. Em certo momento, até brigam fisicamente, mas são apaziguados pela dona de uma casa de prostituição no caminho. O pai não consegue aceitar que seu filho se veste e age como uma mulher. Por outro lado, Lola já sofreu muito por estar no corpo de um homem, inclusive com agressões físicas.

O MP3 player espírita

Até certo ponto da viagem, saber mais detalhes (Lola toma hormônios e está prestes a realizar a tão aguardada cirurgia de transformação) só deixa Philippe mais consternado. Porém, uma aproximação se abre após passarem a noite no mesmo quarto do prostíbulo, e quando brincam juntos quando um motorista buzina atrás do carro deles que trafega em baixa velocidade. Se fosse um filme espírita, diríamos que o MP3 player da mãe, ainda conectado ao carro, serve como um instrumento para ela estimular a conciliação dos dois. Assim, nesse momento da ultrapassagem, o aparelho toca “What’s Up?”, do 4 Non Blondes, aquela banda de um só sucesso dos anos 1990. Lola se surpreende que a mãe tenha colocado esse pop rock na sua playlist. Esse trecho descontraído da relação se choca com a melancolia do início da viagem, ao som deprimente de uma ópera.

Ainda seguindo nessa pegada espírita, o aparelho tem um curto-circuito e o carro explode enquanto Lola e Philippe estão dentro da casa de praia. Seria a mãe novamente forçando-os a ficarem juntos? De qualquer forma, acontece, então, o evento derradeiro que devolve o sentimento paterno a Philippe. Um policial tira sarro de Lola e tenta agredi-la, e o pai logo intervém e a defende.

Preconceito

Aliás, o filme deixa visível que, se na capital Lola circula sem problemas, nas pequenas cidades belgas o preconceito impera. Antes, vimos o farmacêutico se negar a vender os hormônios para Lola, mesmo com a apresentação da receita. Esse preconceito e a canção “Karma Chameleon”, do Culture Club, que rola na rádio durante o café da manhã na casa de prostituição, nos fazem lembrar do filme Canário, um belo filme LGBTQI+ sul-africano.

Lola e o Mar não é um conto de fadas. Não apresenta um final feliz, e prefere ser otimista e, também realista. Depois de sentir o quanto Lola sofre por ter nascido no corpo errado, o pai compreende por que ela quer fazer a cirurgia. Por fim, Philippe ainda não aceita totalmente a ideia de não ter mais um filho, mas uma filha. Mas, pelo menos, já abaixou suas guardas e a reconciliação iniciou seu processo. De sua parte, Lola também rompe a barreira que os separa, com um terno abraço de despedida.    

É interessante como o filme trabalha o tema da transgeneridade sem recorrer ao sexo. A história consegue mostrar que o que torna insuportável a vida no corpo masculino vai além do sexo. Lola quer sua identidade, sua liberdade.

Direção e elenco

Antes de Lola e o Mar, Laurent Micheli dirigira somente um longa, Even Lovers Get the Blues (2016), além de alguns curtas-metragens.

A atriz transgênero Mya Bollers, que interpreta Lola, faz aqui sua estreia. E, com ela, arrebatou o Prêmio Magritte (considerado o Oscar Belga) de Atriz Revelação.

Já Benoît Magimel, que faz Philippe, atua desde 1988, e esteve em filmes importantes, como A Professora de Piano (La Pianiste, 2001), de Michael Haneke, e Uma Garota Dividida em Dois (La fille coupée en deux, 2007), de Claude Chabrol.

Por fim, Lola e o Mar ainda traz o jovem astro Sami Outalbali, como amigo de Lola. Ele está na série Sex Education, e protagonizou o filme Um Conto de Amor e Desejo (Une histoire d’amour et de désir, 2021). Sobre este último, conversamos com Sami no ano passado durante o Festival Varilux de Cinema (assista aqui a entrevista).

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Ficha técnica:

Lola e o Mar | Lola vers la mer | 2019 | Bélgica, França | 90 min | Direção e roteiro:  Laurent Micheli | Elenco: Mya Bollaers, Benoît Magimel, Els Deceukelier, Sami Outalbali, Jérémy Zagba, Anemone Valcke, Adriana Da Fonseca, Delphine Bibet, Rania Saddiki.

Distribuição: Filmicca.

Trailer:
Trailer de “Lola e o Mar”
Onde assistir "Lola e o Mar":
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