Acompanhar o FBI em uma investigação sobre um brutal serial killer pode render poderosos filmes de suspense policial. Longlegs – Vínculo Mortal pretende ser um deles. E seu diretor e roteirista Osgood Perkins, nitidamente influenciado pelos melhores exemplares do gênero, consegue, finalmente, em seu quarto longa, realizar um filme admirável.
A trama lembra O Silêncio dos Inocentes (1991), dé Jonathan Demme, por contar com uma agente do FBI feminina como protagonista. Porém, desta vez enfrentando o sobrenatural, incluindo satanismo. Ademais, com direito a cartas deixadas nos locais dos crimes escritas com um alfabeto codificado (similar a Zodíaco [2007], de David Fincher). O assassino, no entando, não suja as suas mãos. Ao invés disso, induz as vítimas a cometerem os crimes seja via telepatia ou através de poderes das trevas. Detalhe esse que remete ao maravilhoso A Cura (1997), de Kiyoshi Kurosawa.
Maika Monroe, atriz de Corrente do Mal (2014), se especializou no suspense e terror. Desta vez, ela interpreta divinamente a protagonista Lee Harker, uma agente ainda com pouca experiência, mas que se torna essencial para desvendar misteriosos crimes em série nos quais sempre uma pessoa mata toda a sua família e se suicida. O que, adicionalmente, esses casos têm em comum é um bilhete codificado e o fato de a família ter uma filha completando 9 anos no dia 14 do mês do crime.
Sob a supervisão do veterano Agente Carter (Blair Underwood), Lee Harker se torna a principal investigadora desse caso, porque, a princípio, ela tem visões psíquicas que a ajudam a descobrir o local do crime em sua primeira missão. Mas, gradativamente, um vínculo mais forte a conecta com o serial killer.
A boa direção de Oz Perkins
O diretor Osmond Perkins, também conhecido como Oz Perkins, faz questão de nunca confundir o espectador. Os flashbacks de Lee Harker, que guardam a conexão da infância dela com o assassino surge no prólogo, com o formato de tela quadrado acompanhados do glam rock do T. Rex, sinalizando que esse evento acontece no início dos anos 70 (em 1974, como o roteiro vem a especificar posteriormente). Já a narrativa presente se passa durante o governo de Bill Clinton (mais precisamente em 1995), cuja foto aparece emoldurada num quadro em, no mínimo, duas cenas. Esses dois tempos nunca se confundem, pois o formato de tela do presente é widescreen.
Perkins reforça a tensão presente durante todo o filme, sem brechas para alívios cômicos, ambientando a história no frio e úmido estado do Oregon. Ruídos que parecem emitidos por algum ser alienígena entram na trilha sonora apesar de não terem nada a ver com o que os personagens ouvem – apenas para provocar calafrios no público. Além disso, muitos planos filmados de baixo para cima, e o enquadramento que deixa de fora a parte superior do rosto do vilão de tão alto que ele é (longlegs), são outros recursos da direção para incrementar o estranhamento.
Mas a causa principal do medo do espectador é mostrar algo chocante, que até o faz fechar os olhos para não ver. Aqui, essa sensação vem dos violentíssimos assassinatos sendo praticados na tela, bem como, já apelando, ao revelar um cadáver em decomposição. Outro fator, muito trabalhado pelo marketing do filme é a aparência do vilão Longlegs, interpretado por um Nicolas Cage transformado por uma intensa maquiagem. Segundo divulgado, Maika Monroe teria se assustado quando o viu assim caracterizado pela primeira vez. Porém, não é para tanto. Pelo contrário, esse é um dos pontos fracos dessa produção.
Suspense
Em relação ao suspense, Osmond Perkins prova que herdou do pai, Anthony Perkins, uma influência indireta de Alfred Hitchcock. Nesse sentido, a cena em que o vulto do assassino surge na janela traseira do carro da agente, que não percebe, resgata alguns calafrios provocados por Psicose (1960). Essas e outras situações similares em Longlegs foram muito bem filmadas por Oz Perkins.
Por fim, retomando o argumento de que o diretor quis deixar tudo bem explicado, veja como na conclusão Lee Harker explica verbalmente, com imagens reforçando o que narra, todos os detalhes da investigação que ela desvendou. Isso mostra que Longlegs – Vínculo Mortal foi feito para provocar tensão e desafiar o público durante a sua exibição, sem pretender elocubrações posteriores.
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Ficha técnica:
Longlegs – Vínculo Mortal | Longlegs | 2024 | 101 min | EUA, Canadá | Direção: Osgood Perkins | Roteiro: Osgood Perkins | Elenco: Maika Monroe, Nicolas Cage, Blair Underwood, Alicia Witt, Michelle Choi-Lee, Luaren Acala, Kiernan Shipka.
Distribuição: Diamond Films.
Trailer: