“Lovelace” desvenda uma história extremamente dura de uma celebridade que ganhou fama mundial. Porém, sua carreira durou apenas 17 dias.
O filme se inicia com a protagonista Linda Lovelace na banheira. É um momento de reflexão que traz para a tela flashes de imagens e de sons de sua meteórica vida de superstar norte-americana. Então, logo inicia o relato cronológico de sua vida, desde 1970, quando tinha 21 anos e ainda era virgem. Conhecer o trambiqueiro Chuck, nessa época, foi determinante para sua vida.
Bastidores
Envolvido em drogas, prostituição e pornografia, esse que viria a ser seu marido foi quem lhe ensinou a praticar sexo oral, justamente a habilidade que catapultaria Lovelace ao estrelato, numa famosíssima cena do filme pornô “Garganta Profunda” (Deep Throat, 1972). Esse filme foi um divisor de águas para a indústria desse gênero, conquistando bilheteria digna de lançamentos de filmes comerciais, até mesmo no Brasil.
A narrativa trilha, até então, o caminho padrão de biografias levadas para as telas. Porém, dá uma guinada depois que a linha do tempo da história de Lovelace chega ao lançamento do livro autobiográfico da atriz. Então, o filme revela o que aconteceu, de fato, nesses anos imediatamente anteriores até pouco depois do sucesso de “Garganta Profunda”.
Seu marido Chuck agredia, estuprava, e ainda prostituía Lovelace, vendendo-a até para sexo grupal. Ele a obrigou a fazer o filme pornô, e só conseguiu sobreviver porque foi socorrida pelo produtor do filme, Anthony Romano. Linda, na pele de Lovelace, atuou por 17 dias em sua carreira, em apenas um filme, que arrecadou US$ 600 milhões, mas que lhe reverteu míseros US$ 1.250, apesar de toda a fama.
Direção e elenco
Rob Epstein e Jeffrey Friedman, a dupla de diretores de “Lovelace”, são conhecidos por seus documentários. Entre eles, “O Outro Lado de Hollywood” (The Celluloid Closet, 1995), que descortinavam outra realidade dos filmes norte-americanos: a do homossexualismo. Eles não inovam na forma neste longa ficcional sobre a mais famosa atriz pornô de todos os tempos, exceto por optar por revelar o lado negro de Chuck somente depois da metade do enredo.
Acertam na escolha de Amanda Seyfried para o papel principal, porque é uma atriz bonita, mas não deslumbrante, e a própria Lovelace era assim, ambas donas de uma boca avantajada. Seyfried consegue começar o filme bela e perder a beleza conforme entra no mundo pornô e sofre as atrocidades do marido. Mas, este, interpretado por Peter Sasgaard, não consegue impor o tom ameaçador que o personagem demanda, sendo essa uma das maiores falhas de “Lovelace”. Com esse ingrediente, o filme ganharia uma textura de suspense que manteria o espectador tenso pelo risco eminente representado por Chuck. Contudo, nem mesmo a presença camaleônica de Sharon Stone, irreconhecível como a mãe de Linda, consegue elevar o filme além de uma biografia documentada.
Ficha técnica:
Lovelace (Lovelace, 2013) EUA. 93 min. Dir: Rob Epstein, Jeffrey Friedman. Rot: Andy Bellin. Com Amanda Seyfried, Peter Sarsgaard, James Franco, Sharon Stone, Robert Patrick, Juno Temple, Chris Noth, Bobby Cannavale, Hank Azaria, Adam Brody, Chlöe Sevigny, Debi Mazar, Wes Bentley, Eric Roberts.
Assista: entrevista com a Linda Lovelace da vida real