Os realizadores de Lutar, Lutar, Lutar fazem de questão de manter, durante todo o documentário, o conceito de que o Clube Atlético Mineiro é o time de uma torcida democrática. Nasceu pioneiro em 1908, aceitando qualquer torcedor, independente de raça ou condição social. Assim, era o destino dos negros e dos imigrantes árabes, já que seus rivais, segundo o filme, possuíam restrições. O América era o time da elite, e o Cruzeiro da colônia italiana.
O documentário revela que a hegemonia vencedora no estado de Minas Gerais era pouco. Por isso, o torcedor atleticano sofreu por décadas para conseguir títulos nacionais e internacionais. Tudo parecia concorrer contra essas conquistas, desde uma maldição no estádio do Mineirão, até injustiças por conta de erros da arbitragem (as imagens fazem questão de provar até má intenção nesses casos). Após ser campeão brasileiro em 1971, as demais conquistas só vieram mais recentemente. Aliás, a produção desdenha os títulos da Conmebol nos anos 1990, e prefere se concentrar na maior vitória, a Copa de Libertadores de 2013.
Os craques e a torcida
Antes disso, salienta dois craques que marcaram a história do time. Dois centroavantes, Dario (o Dadá Maravilha) e Reinaldo, de épocas e temperamentos diferentes, mas que chegaram a jogar juntos. No filme, Reinaldo é mais privilegiado, com destaque para sua comemoração com o punho erguido, um ato de rebeldia contestado pela ditadura miliar. Mas, principalmente, com uma seleção de gols geniais, que até fazem jus à afirmação de que, depois de Pelé, vem o Reinaldo.
Outro gênio, Ronaldinho Gaúcho, ajudou o Atlético Mineiro a ganhar a Libertadores. Quebrando o formato certinho dos registros televisivos, boa parte dos lances e gols dessa conquista vem de vídeos amadores, ou mesmo oficiais captadas pela produção, filmadas da arquibancada. Embora não sejam as melhores imagens, estão plenamente alinhadas à proposta de destacar a importância da torcida para esse clube que precisou quebrar a sina de perdedor. Da mesma forma, a ideia de colocar a narração de uma torcedora se encaixa perfeitamente. Acima de tudo, Lutar, Lutar, Lutar, é um filme que realmente homenageia uma torcida.
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Ficha técnica:
Lutar, Lutar, Lutar | 2021 | Brasil | 110 min | Direção: Sérgio Borges, Helvécio Marins Jr. | Roteiro: Sérgio Borges, Lucas Campolina, Helvécio Marins Jr.
Distribuição: Embaúba Filmes.