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Mãe! (filme)
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Mãe!

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Se você não entendeu Mãe!, não se preocupe. Este é um daqueles casos em que é possível apreciar melhor o filme depois de conhecer seus spoilers. Mas, saber de antemão que o seu diretor e roteirista é Darren Aronofsky, de Noé (2014) e Cisne Negro (2010) já fornece uma boa dica do que esperar.

A trama

Na história, a personagem de Jennifer Lawrence vive com seu companheiro, vivido por Javier Bardem, em uma grande casa isolada no meio do mato. Enquanto o homem, cuja profissão é escritor, busca inspiração para seu novo livro, a mulher trabalha na reforma da casa. Eventualmente, a harmonia do casal é quebrada com a chegada de um visitante (Ed Harris), a quem Javier Bardem convida para ocupar um dos quartos, sem consultar Jennifer Lawrence. Para piorar, logo chega a esposa (Michelle Pfeiffer) do intruso, para também ficar na residência, a contragosto da dona da casa.

Contudo, o personagem de Ed Harris está morrendo e seu testamento provoca a discórdia entre os dois filhos, que na visita aos pais brigam e um deles morre. Em seguida, parentes e amigos entram na casa para o velório, o que causa a ira de Jennifer Lawrence e a danificação da casa. Então, ocorre uma briga entre o casal, que acaba em sexo e leva à gravidez da mulher. Ao mesmo tempo, chega a inspiração para o homem escrever seu novo livro, que é publicado e se torna um sucesso estrondoso.

Agora, dezenas de pessoas invadem a casa, atrás do celebrado escritor, transformando-a em palco de terríveis cenas de horror, em meio ao qual nasce o filho da mulher. A selvageria das pessoas e a reação da dona da casa resultam em destruição total.

Aliás, nenhum dos personagens possui um nome. Por exemplo, Jennifer Lawrence é creditada como mãe, Javier Bardem como Ele, Ed Harris como homem e Michelle Pfeiffer como mulher, e assim por diante.

Interpretando o filme Mãe!

A princípio, podemos interpretar o filme como um mergulho na loucura da personagem de Jennifer Lawrence. Nesse sentido, ela teria um distúrbio psicológico de possessividade extrema e deseja viver isolada tendo a casa e o companheiro somente para si. A obsessão é tão grande que impede que sufoca o companheiro a ponto de ele não conseguir criar seu novo livro. Como o filme retrata a estória sob o ponto de vista dela, tudo o que se passa na estória poderia ser somente sua visão da realidade.

Os visitantes podem não ser tão agressivos na realidade, mas para ela parecem ser porque põe em risco suas possessões. O sucesso do livro novo do companheiro também é motivo de sua fúria. Essa leitura é válida até o último instante do filme, quando se assume o ponto de vista do personagem de Javier Bardem, que recomeça todo o ciclo, agora com outra mulher.

Mãe natureza

Outras interpretações também são válidas, afinal cinema é uma arte e, depois de publicada, fica sujeita às análises individuais de cada espectador. Porém, o que o seu realizador Darren Aronofsky afirma em várias entrevistas é que Mãe! se trata de uma alusão à mãe natureza e como a humanidade a trata. Por isso, nos créditos finais, o único personagem que aparece escrito com a primeira letra em maiúsculo é o de Javier Bardem, que interpreta Ele, ou seja, o deus que criou o planeta Terra, simbolizado pela casa.

A mãe está sempre trabalhando para melhorar a Terra, e Deus busca uma nova obra para criar. Quando chegam o homem e a mulher (Ed Harris e Michelle Pfeiffer), como fizeram Adão e Eva, o equilíbrio do paraíso é rompido. Michelle Pfeiffer, por isso, faz uma mulher extremamente sexy, que ainda insiste para que a mãe também exercite esse lado em sua relação com o companheiro. Ed Harris, apesar de idolatrar o escritor, desrespeita as normas impostas pela mãe, como fumar dentro de casa, equivalente à poluição causada pela humanidade. Os dois visitantes invadem o escritório Dele, apesar da restrição antes imposta pela mãe, e destroem um precioso cristal, como fizeram Adão e Eva ao comerem o fruto proibido. O assassinato de um dos filhos pelo irmão retrata a estória de Abel, morto por Caim, ambos nascidos de Adão e Eva.

O coração da casa

Constantemente, a mãe encosta suas mãos nas paredes da casa para sentir o coração da casa, para verificar seu estado de saúde, diante de tanta depredação. Todas as pessoas que depois invadem a casa, desde a dezena de amigos e parentes que comparecem ao velório do filho morto, até as alucinógenas cenas de adoração fanática e de guerra, refletem a destruição que a população humana provoca na Terra. A horrível cena em que Ele entrega o seu bebê nas mãos das pessoas é uma metáfora para a morte de Jesus pelos homens. E, com certeza, quem é especialista em Teologia ou na religião cristã encontrará outras referências no filme.

Pessimismo

Aronofsky escreveu um final pessimista para a nossa existência. No filme, a mãe será destruída, a casa explodirá, e Ele precisará reconstruir a Terra, ou outro planeta, com uma nova mãe natureza, pois a atriz que ressurge das cinzas não é mais Jennifer Lawrence, e isso talvez explique o ponto de exclamação do título, similar ao raio que inicia a criação de deus. O cineasta não procura sutileza para mandar seu recado sobre a destruição da Terra, por isso, Mãe! possui cenas próprias de um filme de terror, como as invasões da casa por fanáticos, bandidos e soldados, e, principalmente, o assassinato do bebê recém-nascido. Aronofsky quer chocar, para sensibilizar.

Mas exagera um pouco demais nas cenas das invasões, quando afasta o espectador, que tende a se sentir mais tocado quando se identifica com a situação, o que ocorre durante o confronto com Ed Harris, Michelle Pfeiffer e seus convidados. Mesmo assim, é um filme que faz o espectador ir para a cama pensando nele antes de dormir.


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