Mafia Mamma: De Repente Criminosa se arrisca no humor ácido, mas nunca acerta no tom. Já começa escalando errado, pois Toni Collette aqui não convence como uma mulher frágil. Nem é culpa da atriz, mas do papel em si. O roteiro falha na construção da protagonista Kristin, pois não se define sobre suas características essenciais.
Ela é uma mulher casada, de 40 anos (o que já não funciona, pois Collette tem 50 e aparenta essa idade), com um filho atingindo a idade adulta e um marido imaturo que ainda alimenta o sonho de ganhar a vida como um cantor numa banda de rock. Assim, quem sustenta a casa é Kristin, que tem um cargo importante, embora seus colegas de trabalho, todos homens, não valorizem suas ideias. Para piorar, flagra o marido a traindo. Em meio à frustração geral, ela recebe um convite para ir ao funeral de seu avô na Itália. Num ímpeto de empoderamento feminino, tema que surge numa aula de boxe só para mulheres, ela parte para o continente europeu na busca de “comer, rezar e transar”.
Toni Collette como coitadinha
Mas esse empoderamento não se mantém consistente. Ele vai e volta durante a estada na Itália. Assim, predomina em sua procura por sexo com um bonitão que conhece ao desembarcar no aeroporto, e quando, por fim, assume o cargo de chefe da sua família mafiosa como desejava seu avô falecido. Então, numa variação boba, ela vira uma mafiosa boazinha, que compra medicamentos caros para distribuir ao povo. Com isso, o filme vende a ingênua ideia de que mulheres no poder fariam um mundo melhor.
Por outro lado, ela se faz de vítima e não quer se envolver no mundo do crime. Declara que só queria se divertir um pouco e depois retornar para sua vida miserável. Nessa chave de coitadinha caricata, Toni Collette não funciona. A atriz não consegue esconder sua persona natural de mulherão determinada. Por isso, quando ela aniquila os oponentes da família inimiga, o filme deixa o público sem chão. O que o espectador deveria sentir? Achar graça ou aplaudir a demonstração da força da mulher que vira o jogo e começa a espancar cruelmente, arrancando os olhos do inimigo com seu salto alto?
Na verdade, o que parece ser a intenção principal é levantar a bandeira do empoderamento para o público feminino. Isso fica evidente na cena em que Kristin aparece com uma roupa comportada (“de bibliotecária”, comenta um personagem) e seus aliados a fazem trocar por um vestido colado preto, sinal de sua força. Para completar, a trilha sonora pop embala esses momentos de levantar o astral.
Um filme sem rumo
Porém, se Toni Collette não se encaixa em seu papel, a coadjuvante Monica Bellucci parece à vontade como Bianca, a secretária e braço direito do finado líder da família mafiosa. Impassível, acostumada ao meio criminoso, ela se torna a mentora de Kristin. Mas, essa personagem também acaba à deriva. Seria melhor que ela assumisse de fato o cargo de chefe do grupo, como Kristin sugere perto do final mas a ideia fica no ar.
A diretora do filme é Catherine Hardwicke, aquela que despontou com o megassucesso Crepúsculo (Twilight, 2008). Mas, que nunca mostrou muito talento na direção. Seu melhor trabalho é o melodrama Já Estou Com Saudades (Miss You Already, 2015), que também conta com Toni Collette como protagonista.
Enfim, Mafia Mamma: De Repente Criminosa é um filme sem rumo. Não serve como diversão de Sessão da Tarde, por conta de suas cenas violentas e do flagrante da traição do marido. Nem tampouco serve como sátira nervosa, pois a ingenuidade de Kristin é tão falsa que chega a irritar. De bom mesmo, tem Monica Bellucci, a engraçada dupla de guarda-costas, e o ritmo frenético. Porém, só tem chance de agradar plenamente quem busca mensagens fáceis de empoderamento feminino.
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Ficha técnica:
Mafia Mamma: De Repente Criminosa | Mafia Mamma | 2023 | 101 min | Reino Unido, Itália, EUA | Direção: Catherine Hardwicke | Roteiro: J. Michael Feldman, Debbie Jhoon | Elenco: Toni Collette, Monica Bellucci, Sophia Nomvete, Eduardo Scarpetta, Alfonso Perugini, Francesco Mastroianni, Giulio Corso, Dora Romano.
Distribuição: Paris Filmes.
