Guillermo del Toro costuma escolher bem os projetos que produz, e Mama não é exceção. Como em O Orfanato (El Orfanato, 2007), a premissa do filme é instigante.
Já na abertura, o sobrenatural aparece. Não fica nenhuma dúvida de que uma assombração existe e se materializa para salvar duas pequenas crianças de serem mortas por seu pai, que entrou em pânico após perder tudo numa crise financeira de sua empresa. Esse prólogo é potente, pois abre uma miríade de dúvidas sobre o que acontecerá com essas duas meninas sozinhas com essa entidade. Cinco anos depois, o tio delas, irão gêmeo do pai, as encontra viva na mesma cabana na floresta. Mas, como ele e a namorada terão condições de recuperar essas crianças quase selvagens? Ainda mais quando um ciumento espírito não aceita perdê-las?
Esse longa de estreia do diretor argentino Andy Muschietti se inspira no curta-metragem homônimo de apenas três minutos que ele lançou em 2008. O empurrãozinho de Guillermo del Toro rendeu frutos, e Muschietti conseguiu dirigir em seguida, It: A Coisa (2017) e It – Capítulo 2 (2019).
Uma história forte mas que se enfraquece
A história, escrita pelo diretor em parceria com sua irmã Barbara Muschietti, de fato, é forte. Começa dessa forma provocadora, e termina com um desfecho inesperado, unindo o assustador e o sentimental. O assustador perde a força ao longo do filme, conforme mais vemos a figura do fantasma, pois a figura materna da entidade a torna menos ameaçadora.
Por outro lado, o tema do amor de mãe vai num crescendo. A namorada Annabel (Jessica Chastain), baixista numa banda de rock, não quer (ela fica feliz com o resultado negativo do teste de gravidez) e não está pronta para assumir esse papel. Mas com o coma do namorado Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), ela precisa criar sozinha essas duas crianças que sequer são parentes consanguíneas. Durante essa jornada, ela se transforma, e aprende a amar como uma mãe. Já o viés vingativo da fantasma também se origina desse amor, pois ela teve sua filha injustamente tomada de suas mãos.
Entre os senões de Mama, destacamos o uso de animação (remetendo a uma graphic novel) para mostrar o pesadelo de Annabel. O recurso, artificial demais, dilui o terror da perspectiva da entidade sobrenatural que revela a origem de seu ódio vingativo. Além disso, a história soa forçada na opção de incluir a personagem da tia-avó das meninas que insiste em ter a guarda delas, sem explicar o motivo por querer tanto essa adoção. Parece mais uma desculpa para criar uma personagem detestável que, claro, terá o fim que merece, agradando assim ao público. Da mesma forma, parece gratuito o fato de Lucas ser irmão gêmeo do irmão que enlouqueceu, pois isso em nada interfere na narrativa.
Em suma, a trama central é forte, porém Mama deixa sua intensidade se esvair com detalhes supérfluos. Mas, sem dúvida, vale conferir.
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Ficha técnica:
Mama | Mama | 2013 | 100 min| Canadá, Espanha, México | Direção: Andy Muschietti | Roteiro: Neil Cross | Elenco: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse, Daniel Kash, Javier Botet, Jane Moffat.