O documentário Máquina do Desejo resgata a rica história do Teatro Oficina. Além das produções artísticas, a trajetória envolve muitas lutas para manter viva a companhia de Zé Celso. Inclusive, o filme se encerra com uma nova batalha em jogo.
E é uma história longa, de 62 anos, com origem na Faculdade de Direito no Largo São Francisco, onde os iniciantes mergulharam na atuação com o auxílio do experiente Eugenio Kusnet. A base foi o método Stanislavski. O documentário consegue reunir vários trechos de filmes, com boa qualidade, dos primeiros trabalhos do Teatro Oficina. Assim, Máquina do Desejo traz uma ideia do que foram as apresentações de “Pequenos Burgueses” e “Andorra”.
O Rei da Vela
Logo, a trupe enfrentou as primeiras repressões da ditadura e precisou se reerguer, fisicamente, após o incêndio do teatro. A nova arquitetura já rompia com o tradicional, pois era um palco aberto, sem cortinas. Junto com a reformulação física, o filme mostra também a produção mais ousada do Teatro Oficina. De acordo com as imagens, e com a narrativa no documentário, “O Rei da Vela” trazia os atores com caras pintadas, uma influência do teatro italiano, mas com uma atitude muito agressiva.
Então, Máquina do Desejo apresenta imagens de “Roda Viva”, trazendo o conceito de integração da obra com a plateia e com a realidade fora do teatro. Ou seja, num momento de ditadura, isso significava uma abordagem política. Como resultado, houve um violento ataque de repressão, inclusive com agressão física aos atores, em nome de uma caça aos comunistas. Aliás, o próprio José Celso Martinez Corrêa apresenta seu depoimento do momento em que foi torturado, com detalhes horripilantes, e como sua atitude ímpar o ajudou a superar essa terrível experiência.
Uzyna Usona
Ainda nesse período, Zé Celso ficou exilado em Portugal, e o filme traz registros dele colaborando na luta da independência das colônias portuguesas na África. Mesmo com seu retorno, a reabertura só aconteceu em 1984, como Teatro Oficina Uzyna Uzona. Nesse processo, o documentário apresenta registro de reuniões com políticos como Paulo Maluf e Franco Montoro.
A nova configuração do teatro, obra da arquiteta Lina Bo Bardi, é ainda mais revolucionária. O público fica nas laterais e o corredor é usado como palco, como diz o próprio Zé Celso no filme. E, ao vermos trechos das montagens de “Ham-let”, “Cacilda” e “Os Sertões”, observamos que o conteúdo se torna ainda mais gráfico. Além da nudez, há até ejaculações em cena. Com isso, comprovamos que o Teatro Oficina continua guerreiro, rompendo os limites da censura não oficial da pequena burguesia. Aliás, tal qual no início dessa trajetória de longa data.
Enfim, o Teatro Oficina é essencial para quem faz ou aprecia o teatro. Agora, Máquina do Desejo leva sua história para um público amplo.
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Ficha técnica:
Máquina do Desejo (2021) Brasil. 120 min. Direção: Lucas Weglinski, Joaquim Castro.
