Em 21 de março de 1956, esse pequeno filme chamado Marty surpreenderia a todos ao levar quatro Oscars em categorias importantes: filme, diretor, ator (Ernest Borgnine) e roteiro. Era a primeira vez que a Academia premiava uma obra originada de uma peça feita para a televisão. Isso numa época em que a essa nova mídia surgia como uma potencial ameaça ao cinema.
O roteiro de Paddy Chayefsky transporta para a tela grande as melhores qualidades das peças que eram transmitidas ao vivo pela televisão. Ou seja, possui uma trama simples e enxuta, ritmo ágil e diálogos abundantes e inteligentes. Assim, Marty tornou-se, com o tempo, case de estudo para cursos de roteiro e comunicação. A estória gira em torno de pessoas comuns, vivendo uma situação cotidiana, o que facilita a identificação do espectador. Paira em todo o filme a óbvia intenção de retratar com realismo essas pessoas. Por isso, os personagens conversam com naturalidade, sobre temas que afetam as vidas deles. Em outras palavras, não há falatório para preencher o tempo, não há superficialidade.
Então, quando os protagonistas Clara (Betsy Blair) e Marty (Ernest Borgnine) batem papo sobre sair de casa e viver sozinho, o assunto não parece apenas jogado à toda, mas refletido e discutido pelos dois. As palavras que saem da boca de Clara, quando ela está na casa de Marty, são as perfeitas para o momento.
A simplicidade da história
De fato, a história é simples. Marty é um solteirão de 34 anos que sofre pressão de todos os lados para se casar logo. Ele, porém, se acha pouco atraente para as mulheres e, depois de tentar por tanto tempo encontrar uma namorada, não quer mais sofrer com isso. Porém, por insistência da mãe, com quem mora, e do melhor amigo, também solteiro, aceita ir a uma boate dançar. Lá, conhece Clara, uma mulher de 29 anos que enfrenta a mesma situação dele. Logo, os dois se identificam e se sentem atraídos um pelo outro.
O roteiro acompanha os dois na mesma noite, quando saem para comer depois da boate, e depois quando vão para a casa de Marty. Na rua, ele não para de falar, de tão entusiasmado que está. O primeiro beijo só acontece depois de uma primeira recusa de Clara na primeira tentativa, e rola de forma bem tímida. Então, Marty a acompanha no ônibus até a casa dela, de madrugada. Ao retornar, corre esfuziante pelas ruas atrás de um táxi.
No dia seguinte, Marty é bombardeado pelos amigos e pela mãe, todos opinando contra Clara. Ele acaba não telefonando para ela, às 14h30, como havia prometido. Porém, ao sair à noite com os amigos, considera melhor, e decide ligar para Clara. O filme se encerra assim, de maneira econômica e eficiente, sem precisar se desgastar com o que acontecerá dali em diante.
Ainda hoje Marty exibe um realismo autêntico, fruto das propostas do roteiro acima discutidas, bem como da atuação dos dois atores principais desglamourizados da pompa das estrelas de cinema. Além disso, conta com a direção competente de Delbert Mann, que usa vários travellings, comuns nas produções de peças na televisão, e filmagens nas ruas do Bronx. Se, ainda hoje, esse realismo é latente, imagine na época em que o filme foi lançado, contando a estória contemporânea daqueles tempos. Enfim, Marty é uma aula de como se realizar um filme independente, com orçamento baixo e sem estrelas.
Ficha técnica:
Marty (Marty, 1955) EUA, 90 min. Dir: Delbert Mann. Rot: Paddy Chayefsky. Elenco: Ernest Borgnine, Betsy Blair, Esther Minciotti, Augusta Ciolli, Joe Mantell, Karen Steele, Jerry Paris.