Sexto longa-metragem da diretora Mia Hansen-Løve, Maya percorre um trajeto oposto ao do seu protagonista Gabriel Dahan. Esse jornalista de guerra francês passa quatro meses como refém na Síria. Quando recupera a liberdade, resolve passar alguns meses na Índia, onde viveu sua infância, para repensar sua vida antes de decidir se volta a trabalhar na mesma profissão perigosa.
Numa pequena cidade litorânea de Goa, na Índia, Gabriel reforma a casa em que viveu, enquanto inicia uma amizade com Maya, a filha de seu padrinho, que é dono de um hotel. Ao fim dessa experiência, Gabriel descobre que deseja mesmo reassumir sua arriscada profissão, mesmo que isso o afaste de relações amorosas duradouras. Já o filme se perde em meio a tantas linhas narrativas envolvendo o personagem principal.
O primeiro trecho do filme, que se passa em Paris, é o mais envolvente. Cobre os dias da chegada de Gabriel e seu amigo Frédéric à capital francesa logo após serem libertados do sequestro. Apesar do alívio de ter escapado, Gabriel não se sente tão entusiasmado durante os reencontros com a família, os amigos e a ex-namorada. Mas, ao invés de seguir a recomendação de iniciar um acompanhamento psiquiátrico, prefere partir para a Índia.
As várias situações na Índia
Na Índia, ele enfrenta múltiplas vivências. Há o interessante relacionamento dele com a jovem filha de seu padrasto, que deve ter uns 18 anos, ou menos. A crescente paixão de Maya por esse homem de 32 anos parece caminhar para um desfecho similar ao de O Rio Sagrado (The River, 1951), de outro cineasta francês, Jean Renoir. Nesse filme, três garotas inglesas na Índia se apaixonam por um oficial americano – e uma delas é uma adolescente. No entanto, em Maya, a perspectiva é masculina, e a solução dessa questão se mostra racional (Gabriel coloca sua profissão acima dos amores). Com isso, o filme desperdiça a oportunidade de sair da temperatura morna que predomina em quase toda sua duração.
Outros eventos agitam a passagem de Gabriel pela Índia. O encontro com sua mãe, que fugiu de casa com o amante quando ele era criança, se desenrola sem picos dramáticos. Já a reforma de sua casa de infância se completa meio que automaticamente, sem interferir na história. Por isso, quando uma espécie de mafiosos imobiliários a incendeia, não sentimos a emoção que essa perda deveria representar.
Mia Hansen-Løve continua segura na direção, e conduz com economia e eficiência a montagem que descreve a viagem de Gabriel pelo país, num dos bons momentos de Maya. Enfim, é um filme que começa no pico, mas se perde ao tramitar por variadas subtramas. Nunca é enfadonho, pois acompanhamos com interesse o processo de realinhamento da vida do protagonista, após uma experiência traumática. Contudo, é pouco para a diretora que tinha acabado de realizar o superior O Que Está Por Vir (L’avenir, 2016).
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Ficha técnica:
Maya | Maya | 2018 | 107 min | França, Alemanha | Direção e roteiro: Mia Hansen-Løve | Elenco: Roman Kolinka, Aarshi Banerjee, Alex Descas, Judith Chemla, Johanna ter Steege, Pathy Aiyar, Suzan Anbeh, François Loriquet, Jean Rolin, Patricia Bolougne, Sandrine Dumas.