Me Chame Pelo Seu Nome se passa no norte da Itália, no verão de 1983. Elio, um jovem de 17 anos viverá uma experiência inesquecível durante as seis semanas em que sua família acolhe o estadunidense Oliver, convidado de seu pai para suas pesquisas de estudo.
É férias, e Elio passa a maior parte do tempo lendo livros e transcrevendo música, sendo ele um habilidoso pianista. E, como ele cede seu quarto para o recém-chegado estrangeiro, compartilha com ele o mesmo banheiro e o quarto ao lado. Logo, a proximidade física acaba levando a uma intimidade, a princípio, em segredo. Enquanto usa o banheiro, Elio observa os shorts e as cuecas de Oliver penduradas em vários cantos.
Atração
Mas, o espectador só tem a certeza de que o jovem se sente atraído sexualmente pelo colega após 40 minutos de filme. Ele se deita na cama, que era dele, e agora é usada por Oliver, e se excita colocando o calção do visitante na cabeça. Até então, o rapaz mostrava um comportamento arredio, como que sufocado por algum motivo velado. Após aceitar que está atraído pelo homem com quem divide os cômodos, ele caminha até a varanda, onde observa o jardim arborizado. A natureza, por mais de uma vez, será metáfora do sentimento libertário de sua descoberta sexual.
Num passeio à cidade, Elio se declara, nas entrelinhas, a Oliver, que fica feliz com a declaração, mas preocupado com as consequências. Enquanto Elio revela sua feminilidade em gestos, o americano teme que a revelação desse sentimento possa prejudica-lo. Por isso, se afasta durante os dias seguintes. Um belo enquadramento revela o que se passa na mente de Elio, posicionando-o pensativo embaixo de um arco de plantas, como uma gruta. Na tarde em que Elio debuta no sexo com a amiga Marzia, ele marca um reencontro com Oliver.
E o filme revela o que entusiasma mais o garoto, mostrando-o olhando a todo instante para o relógio. A cena de sexo entre os dois amantes é discreta, a câmera se afasta da cama para a janela do quarto, onde uma bela árvore do jardim novamente demonstra a libertação do rapaz. No final, durante a viagem de despedida, Elio e Oliver passeiam nas montanhas. E a câmera agora gira em 360 graus enfatizando a plenitude do amor entre os dois. Porém, talvez a cena mais marcante seja a masturbação de Elio com um pêssego, ou seja, novamente um elemento da natureza.
Sensibilidade em um patamar superior
Aliás, se você achou Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) uma abordagem sensível do amor homossexual, com certeza perceberá que Me Chame Pelo Seu Nome consegue elevar essa sensibilidade a um patamar superior. Afinal, o pai de Elio, numa conversa íntima com o filho, confirma o que o espectador já desconfiara durante o filme, e conscientiza o rapaz da beleza da experiência que ele viveu, uma ousadia que o pai nunca teve a coragem de provar, e que agora já é tarde demais. Independente da escolha sexual, Elio viveu um grande amor, porém, como se costuma dizer por aqui, amor de verão não sobe a serra. Mas, deixa sua marca.
Timothée Chalamet personifica com brilhantismo o jovem Elio, passando com credibilidade a delicadeza dos sentimentos do rapaz. Destaca-se a cena dos créditos finais, uma longa tomada única enquadra o seu rosto. Enquanto isso, olha para o fogo da lareira e chora de tristeza por não ter Oliver a seu lado. Até, finalmente, esboçar um leve sorriso, que mostra que ele aceita as palavras gentis do seu pai.
Me Chame Pelo Seu Nome é um belíssimo romance. Foi indicado para os Oscars de ator (Timothée Chalamet), roteiro original (James Ivory), canção original (Surfjan Stevens) e filme. E este último prêmio pode colocar o brasileiro Rodrigo Teixeira, um dos produtores, no palco da cerimônia.
Ficha técnica:
Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017) Itália/França/Brasil/EUA, 132 min. Dir: Luca Guadagnino. Rot: James Ivory. Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo.