Me Leve Para um Lugar Legal é um road movie que não chega a lugar algum.
O primeiro longa-metragem da diretora Ena Sendijarevic, nascida na Bósnia e Herzegovina em 1987, se coloca entre aquelas obras em que o trajeto vale mais que o destino. E o caminho é sofrido para a protagonista Alma.
A jovem garota sai da Holanda, onde mora, para visitar o pai que nunca conheceu, que está doente em um hospital na Bósnia, país de origem dela. Ao chegar na Bósnia, reencontra o primo Emir, que se mostra muito desagradável. Ele a deixa quase abandonada em seu apartamento, sem praticamente nada para comer. Alma não consegue nem pegar suas roupas na sua mala, pois o cadeado emperra. Ela se dá melhor com Denis, amigo de Emir.
Sem ajuda do primo, Alma tenta ir até a pequena cidade onde se encontra seu pai. Pega um ônibus, mas numa parada para descanso ela acaba ficando para trás. Consegue uma carona, quase chegaria a fazer sexo por dinheiro, se Emir e Denis não a resgatassem. Então, os três seguem rumo ao hospital que cuida do pai de Alma, enfrentando novos obstáculos.
Variados eventos se sucedem nessa jornada de Alma, da Holanda até o hospital onde seu pai está internado. Como todo bom road movie, essa sucessão de acontecimentos mantém o filme em movimento, e isso agrada ao espectador. Em relação aos personagens, percebemos uma aproximação entre Alma e seu primo Emir, pelo menos o suficiente para conviverem harmoniosamente. E um estreitamento na relação dela com Denis, com quem já tinha transado antes de partirem, mas agora desenvolvendo o início de um sentimento de afeto.
Materialismo
O final abrupto de Me Leve Para um Lugar Legal confirma uma sensação de ausência de objetividade. Alma chega tarde demais ao hospital, mas isso não tem relevância, porque ela não entende o motivo de querer conhecê-lo justamente nesse momento. De fato, durante toda a narrativa, o que se sobressai é sua motivação por reunir coisas materiais.
A impossibilidade de alcançar suas coisas dentro de sua mala que não abre a deixa vazia. Mas, ela preenche esse buraco com outra mala, que ela recebe da rodoviária mesmo sabendo que não é a sua. Alma não conhece seu pai, mas leva o corpo dele, e o carro. E o mencionado final abrupto revela o materialismo até em relação a Denis. Afinal, todo estropiado depois de apanhar de dois homens, o corpo de Denis é usado por ela para o sexo.
Uma boa metáfora dessa atitude de Alma é a cena em que ela joga dentro do aquário toda a comida que sobrou no pote, mesmo sabendo que todos os peixes estão mortos. Não serve para nada, mas faz uso do material, como ela fez em várias situações durante o filme.
Acima de tudo, Me Leve Para um Lugar Legal não agrada muito porque seus personagens são desagradáveis. É difícil sentir alguma empatia por eles, mesmo pela protagonista Alma, que sofre com as dificuldades e indiferença das pessoas na sua jornada. Mas o filme serve como retrato dessa juventude vazia.
Ficha técnica:
Me Leve Para um Lugar Legal (Take Me Somewhere Nice, 2019) Holanda/Bósnia e Herzegovina. 91 min. Dir/Rot: Ena Sendijarevic. Elenco: Sara Luna Zoric, Lazar Dragojevic, Ernad Prnjavorac, Sanja Buric.
Trailer internacional:
Assista à entrevista com Ena Sendijarevic sobre o filme Me Leve Para um Lugar Legal: