O paradoxo temporal ganha uma abordagem diferente em Meu Eu do Futuro (My Old Ass). A pessoa do futuro que volta no tempo para visitar a protagonista Elliott (Maisy Stella, da série Nashville) é a versão mais velha dela mesmo. Essa premissa abre as portas para uma discussão existencial, que de fato acontece, mas numa pegada humorística, depois de um começo meio cambaleante do roteiro, quando as duas se encontram pela primeira vez e conversam sobre banalidades. A propósito, essa reunião acontece quando Elliott chama duas amigas para acampar numa ilha em comemoração aos seus 18 anos. Depois de tomarem um chá alucinógeno, cada uma embarca numa viagem diferente. No caso de Elliott, ela recebe a aparição de sua versão com 39 anos (vivida pela sempre singular Aubrey Plaza).
Após as banalidades, que duram alguns minutos apenas, o filme engata no seu gancho principal: quais conselhos a Elliott madura poderia dar para a Elliott jovem? Ou, em outras palavras, sabendo o que vai acontecer nos anos vindouros, o que deve a jovem fazer ou evitar para que sua vida seja melhor? Como se pode notar, é a velha questão existencial em embalagem acessível para todos.
Fugindo do materialismo
É louvável que o foco dessa interação fuja da habitual busca pelo enriquecimento fácil. Afinal, todos já se cansaram da batida trama do personagem que se lembra do resultado da loteria, ou sabe em quais ações investir, e equivalentes. Em Meu Eu do Futuro, o próprio conselho faz suspeitar de algo profundo: “não se envolva com ninguém que se chama Chad”. E, logo, ela conhece um rapaz encantador com esse nome, interpretado por Percy Hynes White, da série Wandinha. Ele está estagiando na fazenda de cranberries da família de Elliott. Mas, após se apaixonar por ele, Elliott quer saber por que deve evitá-lo. Esse mistério, no entanto, fica em suspense até a revelação final, que vem acompanhada de uma das mais sensatas mensagens em um filme com uma abordagem assim tão fantasiosa.
Acrescentando, outros conselhos da versão adulta envolvem mudanças atitudinais mais previsíveis. Por exemplo, se aproximar mais dos integrantes de sua família (o pai, a mãe e os dois irmãos). Como subtema, Elliott está se descobrindo em relação ao seu gênero. Até conhecer Brad, ela só namorava meninas. Por isso, o filme insere um breve número musical na segunda viagem alucinógena de Elliott, na qual ela se imagina sendo Justin Bieber. Esses são elementos que não agregam tanto ao enredo, e deixam o filme um tanto frouxo.
Meu Eu do Futuro é escrito e dirigido pela também atriz Megan Park. O filme parece uma sequência de seu longa de estreia, A Vida Depois (The Fallout, 2021), no que tange à idade da protagonista e seu amadurecimento. Esse filme anterior ainda não foi analisado pelo nosso site, mas este desta crítica é bem agradável por seu teor e direcionamento.
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Ficha técnica:
Meu Eu do Futuro | My Old Ass | 2024 | 89 min. | Reino Unido, Canadá, EUA | Direção: Megan Park | Roteiro: Megan Park | Elenco: Maisy Stella, Aubrey Plaza, Percy Hynes White, Maddie Ziegler, Kerrice Brooks, Maria Dizzia, Alain Goulem, Seth Isaac Johnson, Carter Trozzolo, Alexandria Rivera.