Meu Nome é Bagdá utiliza o microcosmo da galera do skate suburbano para sinalizar o empoderamento feminino.
Na Freguesia
Antes de mais nada, o cenário é a periferia paulistana, especificamente o bairro da Freguesia do Ó. Lá, o filme acompanha a protagonista Tatiana, apelidada de Bagdá, durante alguns dias. A garota, de 17 anos, não curte o perfil de menininha delicada; usa cabelos curtos, roupas largas e vive nas ruas andando de skate com os meninos.
Além da turma dos skatistas, Bagdá cultiva fortes laços emocionais com as duas irmãs e com a mãe. E, também, com as colegas do salão de cabeleireiro onde a mãe trabalha. Essencialmente, o bairro em si é retratado no filme como um personagem, quintal da casa e nicho de outras amizades com os moradores e comerciantes da região. Então, é por isso que há dois trechos que focam alguns lojistas que nem fazem parte da estória, mas são do bairro.
Análise
Por um lado, o visual da protagonista Bagdá combina com seu jeito contestador. Apesar de ser pequena, ela não tem medo de defender os amigos. Por exemplo, o idoso dono do salão que faz tratamento de quimioterapia e que sofre com agressões por ser transexual.
Mas a diretora Caru Alves de Souza não se restringe a caracterizar a protagonista com uma só faceta. Bagdá não cai no clichê da menina machona que aguenta todas as paradas. Em uma batida nos skatistas, ela é abusada, revistada pelo policial mesmo sendo uma mulher, e ainda insultada covardemente por seu visual masculinizado. E, numa festa, quando um dos garotos da turma tenta beijá-la à força, ela não consegue se defender, pois é mais fraca fisicamente. Nas duas situações, ela sofre calada, mas sofre, sem forças para reagir.
Então, na sua parte final, Meu Nome é Bagdá apresenta uma outra chave em sua trama. Até esse momento, o filme trabalhava no retrato do cotidiano no subúrbio dessa personagem de classe baixa que logo desperta a empatia do espectador. E já funcionava. Mas o longa cresce ainda mais com a ideia de empoderamento que as garotas skatistas de outro bairro emprestam a Bagdá e a outras meninas que sofrem abuso. Para que, com essa força de união, elas não tenham que tolerar mais esse tipo de situação.
Meu Nome é Bagdá recebeu o prêmio Grand Prix of the Generation 14plus International Jury no Festival de Berlim.
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Ficha técnica:
Meu Nome é Bagdá (2020) Brasil, 109 min. Dir: Caru Alves de Souza. Rot: Caru Alves de Souza, Josefina Trotta. Elenco: Grace Orsato, Karina Buhr, Marie Maymone, Helena Luz, Gilda Nomacce, Paulette Pink, Emílio Serrano, William Costa, João Paulo Bienermann, Nick Batista.