Meu Sangue Ferve Por Você não é uma cinebiografia de Sidney Magal, mas uma comédia romântica musical sobre o início do relacionamento do cantor com Magali West, que ainda é sua esposa. Sem se preocupar em contar os fatos exatamente como aconteceram, o enredo cobre um curto período da vida de Magal, e se passa em Salvador em 1979.
Conto de fadas
Interpretado por Filipe Bragança, o personagem Magal já é famoso e se apresenta na capital baiana. Após um show, ao fugir a pé de fãs que correm atrás dele, o cantor entra em um táxi. No volante, está Magali (Giovana Cordeiro), que não é taxista, e pegou o veículo para sair à noite escondida da mãe. Ele imediatamente fica apaixonado, mas ela não, e sequer o reconhece (um dos pontos sem sentido do roteiro). No dia seguinte, ao acompanhar a prima em um concurso de beleza, Magali é convidada na hora pelo apresentador a participar e ganha o prêmio, entregue por Magal. Desta forma, Magali descobre quem ele é, mas foge dele. Não é só pela recusa inicial dela que o romance demora a engrenar. A mãe de Magali e o empresário de Magal são contra o namoro, cada um com suas razões.
O roteiro parece um conto de fadas, repleto de coincidências que o aproximam da fantasia. Mas, sem muita novidade, repetindo clichês como a corrida para evitar o casamento com a pessoa errada. Isso não representa um problema, o frequentador de cinema está habituado a esse tipo de liberdade criativa. O defeito principal da trama consiste em não construir um romance convincente. Magal faz de tudo para alcançar sua nova paixão, mas Magali parece sempre pouco interessada. A recepção surpresa na sacada com direito a cantoria consegue sensibilizá-la, a ponto de irem para a cama. Porém, depois ela continua alheia ao amor que está nascendo ali.
Comunicação prejudicada
Esse desequilíbrio de sentimentos entre os dois protagonistas prejudica muito a história. É como se a narrativa não fosse prioridade, constatação que surge também porque a comédia ocupa o espaço do romance, visto que personagens coadjuvantes aparecem bastante. Dessa forma, roubam espaço que deveria ser dedicado a mostrar a paixão crescente em Magali.
A mão do diretor também pesa nesse quesito da manifestação do romance. Durante o concurso de beleza, exibido pela TV, a mãe de Magali (vivida muito bem por Emanuelle Araújo) comenta que o cantor famoso está se engraçando pela filha diante de toda a Bahia, e ela está correspondendo. Porém, essa atração toda não aparece na tela – e talvez por isso seja necessário que a mãe coloque tal comentário. A direção, aliás, peca bastante nos trechos que precisa dessa comunicação através de imagens. Isso vale para toda paixão entre Magal e Magali, bem como na identificação entre o tio e Sandra Pink, e outros detalhes como a grade que a mãe colocou na janela do quarto.
Musical
Quanto ao aspecto musical, Meu Sangue Ferve Por Você incorpora o gênero clássico. Ou seja, as músicas não ficam só nos ensaios e apresentações de Magal. Entram também em trechos dedicados a cada personagem principal, como parte da narrativa. O primeiro deles, por exemplo, traz Magali na rua cantando e dançando com as pessoas. Nesse ponto, a crítica negativa cabe ao fato de as letras das canções não se encaixarem devidamente com o momento em que aparecem na história. Por conta de serem músicas já existentes, o que elas dizem muitas vezes destoam do que a trama pede.
Então, pode-se concluir que, para o espectador comum, Meu Sangue Ferve Por Você não é uma boa experiência. Mas para os fãs de Sidney Magal, o filme tem um encanto especial, por conta da interpretação de Filipe Bragança (que evita a imitação) e, principalmente, da conclusão que se abre para a metalinguagem.
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Ficha técnica de “Meu Sangue Ferve Por Você”:
Meu Sangue Ferve Por Você | 2023 | 97 min | Brasil | Diretor: Paulo Machline | Roteiro: Roberto Vitorino, Homero Olivetto, Paulo Machline, Thiago Dottori | Elenco: Filipe Bragança, Giovana Cordeiro, Caco Ciocler, Emanuelle Araújo, Sidney Santiago Kuanza, Sol Menezzes, Pablo Morais, Tânia Toko.
Distribuição: Manequim Filmes.
Assista ao trailer aqui.
