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Meu Tio da América (filme)
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Meu Tio da América

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Não se deve esperar do diretor Alain Resnais um filme convencional e Meu Tio da América justifica essa afirmação. Desta vez seu desafio não se assemelha a um jogo de memórias como em O Ano Passado em Marienbad (L’Année Dernière à Marienbad, 1961). Dialoga, porém, com o didatismo da abertura de Hiroshima, Mon Amour (idem, 1959), um relato próximo do documental sobre os efeitos da guerra na cidade japonesa. Meu Tio da América também se inicia com um relatório de dados, com fotos e narração em off, dos personagens principais, que, logo descobriremos, representam cobaias dos experimentos do cientista comportamental Prof. Henri Laborit, interpretado por ele mesmo.

O longa-metragem se afasta, entretanto, daquele drama romântico entre um japonês e uma francesa apaixonados, porque o roteiro não permite uma aproximação sentimental em relação aos protagonistas. As aflições vividas por Jean Le Gall (Roger Pierre), Janine Garnier (Nicole Garcia) e René Ragueneau (Gérard Depardieu) recebem um tratamento objetivo com o devido distanciamento exigido em uma experiência científica.

Na sequência inicial citada acima, é interessante notar como Resnais antecipa o que se verá nas telas. Primeiro, uma gravura cheia de retratos surge integralmente, para depois escurecer o quadro e um jato de luz passear por ela focando em certas partes. Da mesma forma, estrutura dessa introdução também seguirá essa ordem.

Em primeiro lugar, a teoria puramente biológica sobre seres vivos, depois plantas, depois animais e, finalmente, os seres humanos. Surge então respostas à pergunta “onde você nasceu?”, em vozes de variadas pessoas. Só então entram os relatos dos dados de cada um dos três personagens principais, narrados por um terceiro, e depois eles próprios falando de si mesmos. As imagens dessas sequências serão vistas posteriormente durante o filme, e as informações já contam o que acontecerá com eles durante o filme.

Enquanto o Prof. Henri Laborit expõe sua teoria comportamental, Alain Resnais justapõe, em várias sequências, animais ilustrando a tese e os personagens agindo igualmente de acordo. O filme mostra que os acontecimentos, que não se distanciam dos fatos cotidianos das pessoas reais, são tão previsíveis quanto aqueles resultados apurados com as cobaias após o condicionamento induzido nos experimentos.

Resnais, no entanto, não permite que essa analogia descambe para um relato científico. Os protagonistas são construídos com profundidade e suas atitudes não são meros pastiches, eles se comportam como pessoas reais se comportariam. É por isso que a comparação com as reações intuitivas dos animais, escancarada no filme, ganha tanto impacto para o espectador.

Poderia ser uma crítica de Resnais, porém, talvez não caiba uma crítica a uma constatação de uma característica inerente às pessoas. Caberia se fosse um fato social. O próprio Resnais parece responder a isso, ao incluir a artificial cena em que o personagem Jean aparece fantasiado de rato de laboratório. Meu Tio da América quer colocar à prova a teoria de Laborit, nada mais que isso.

As justaposições intermitentes com cenas de filmes antigos também colocam um tom farsesco ao filme. Gérard Depardieu, por exemplo, espelha os movimentos do ator Jean Gabin, ídolo do seu personagem. E, mais um dos comportamentos a serem analisados pelo Prof. Laborit. O cientista revela o motivo da importância do filme de Resnais, o de contribuir no compartilhamento do entendimento do comportamento que leva à dominação de uma pessoa sobre outra, que leva à guerra.

As imagens finais mostram uma cidade devastada por bombardeios, e faz o caminho inverso do início, e para quando enquadra um prédio com um desenho da natureza, partindo para o específico, até chegar no detalhe de um tijolo. Como o Prof. Laborit explicou, cada experiência é um tijolo que molda o comportamento humano.  A falha em um tijolo pode fazer desabar tudo. Os três personagens ilustram isso em seus dramas. E Resnais cumpre seu papel.


Ficha técnica:

Meu Tio da América – França, 125 min. Dir: Alain Resnais. Rot: Jean Gruault. Com Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Nelly Borgeaud, Pierre Arditi, Henri Laborit, Gérard Darrieu, Philippe Laudenbach, Marie Dubois, Bernard Malaterre, Laurence Roy, Alexandre Rignault, Véronique Silver, Jean Lescot, Geneviève Mnich, Maurice Gauthier, Jean-Philippe Puymartin, Catherine Frot.

Onde assistir:
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