Meu Verão com Gloria, segundo longa da diretora francesa Marie Amachoukeli, retrata os intensos laços afetivos entre uma criança de seis anos e sua babá.
O filme começa na França, para onde emigrou Gloria sozinha, deixando em Cabo Verde seus dois filhos. A primeira parte do enredo demonstra que Gloria é a pessoa que passa mais tempo com Cleo. A mãe da menina provavelmente é falecida, pois não aparece na história. Já o pai trabalha muito e só vê a filha à noite ou de manhã – em alguns dias mais atribulados, chega tarde demais em casa para encontrá-la acordada.
Essa rotina é interrompida com a notícia da morte da mãe de Gloria, o que a obriga a abandonar a França e voltar ao seu país. Cleo sofre muito com a notícia. Então, o pai dela combina com Gloria de as duas passarem o verão juntas em Cabo Verde. Essa jornada de despedida compõe a segunda parte do filme, onde se concentra o cerne da trama.
Nesse novo meio, Cleo e Gloria não estão mais isolados. A dedicação da babá agora precisa ser dividida com os seus filhos, principalmente o menino que tem uns dez anos. Custa para ele aceitar essa mulher quase desconhecida como sua mãe, já que até então quem cuidava dele era a avó. Mais complicado ainda é ver que Gloria parece mais íntima de Cleo do que dele. Surge um inevitável ciúme. Em contrapartida, Cleo também estranha essa novidade de ter que dividir a atenção de Gloria com outros. Quando nasce o neto de Gloria, então, o ciúme de Cleo chega a ficar perigoso para o bebê.
A direção
Marie Amachoukeli, diretora de Party Girl (2014), filma Meu Verão com Gloria quase todo na perspectiva da menina Cleo. Assim, o que acontece na trama pertence ao que ela presencia. Somente na última cena esse recorte muda, passando para o ponto de vista de Gloria, que chora longe das vistas de Cleo.
O uso de planos fechados intensifica a intimidade dessa narrativa. O recurso aproxima o espectador das duas protagonistas. Com isso, o espectador entende o que elas sentem ou querem expressar sem precisarem falar verbalmente. Para não criar um efeito claustrofóbico, a diretora Marie Amachoukeli varia essa forma de filmar. Por exemplo, nas cenas externas em Cabo Verde, tanto nos vários planos com os pescadores comentando como se num registro documental, quanto nas brincadeiras à beira-mar da turma do filho de Gloria.
No entanto, o recurso mais ousado é o uso de animações com toque impressionista como alternativa para contar a narrativa. Serve para os flashbacks, como opção para tomadas difíceis de filmar, ou no clímax dramático do mergulho no mar.
Enfim, Meu Verão com Gloria apresenta uma história simples, escrita pela própria Marie Amachoukeli, que a leva para as telas sem apelar demasiadamente para o sentimental, como era de se esperar. Prefere, ao invés, se concentrar nas variações estilísticas que ajudam a carregar o filme numa experiência agradável e terna.
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Ficha técnica:
Meu Verão com Gloria | Àma Gloria | 2023 | 84 min. | França | Direção: Marie Amachoukeli | Roteiro: Marie Amachoukeli | Elenco: Louise Mauroy-Panzani, Ilça Moreno Zego, Abnara Gomes Varela, Fredy Gomes Tavares, Arnaud Rebotini, Domingos Borges Almeida.
Distribuição: Filmes do Estação.