Meu Vizinho Adolf! (My Neighbor Adolf) transita entre gêneros, obtendo diferentes resultados. Tem um pouco daquelas tramas sobre vizinhos suspeitos, que geram situações cômicas e até perigosas para o protagonista. Como Meus Vizinhos São Um Terror (The ‘Burbs, 1989), por exemplo, dirigido por Joe Dante. Mas, também, a teoria da conspiração sobre nazistas escondidos na América do Sul, tal qual vimos recentemente em Sr. Kaplan (Mr. Kaplan, 2014). Neste novo filme, o nazista é o próprio Adolf Hitler!
Para o personagem principal, o judeu Sr. Polsky (David Hayman), a questão se origina na sua profunda tristeza pela perda de toda a família durante o holocausto. Para ele, seria intolerável suportar ter o genocida nazista escondido como seu vizinho. Mas, para convencer as autoridades, compreensivelmente descrentes, ele precisa reunir provas contundentes. Assim, o filme mergulha na comédia enquanto o Sr. Polsky procura pistas que possam evidenciar que seu novo vizinho Sr. Herzog (Udo Kier) é Hitler. Não traz muita novidade, e as piadas não emplacam, o que torna essa abordagem o momento mais fraco do filme.
O longa melhora quando o Sr. Polsky começa a se arriscar mais. Primeiro, tentando uma aproximação através do interesse compartilhado em jogar xadrez. Depois, partindo direto para a invasão da casa vizinha, com uma sensação de perigo por conta do feroz cão de guarda do alemão. Porém, o filme não emplaca porque os dois personagens são um tanto detestáveis. O Sr. Polsky é arredio e recluso, e o conhecemos tratando mal o entregador de jornal. Da mesma forma, o Sr. Herzog logo entra numa discussão com o vizinho, não admitindo sua culpa por seu cão ter invadido o terreno ao lado. E, ainda, ele usa uma intermediária para lidar com suas questões.
Humanização
Por isso, o filme só cresce quando humaniza esses dois protagonistas. Em certo momento, caem as rivalidades mútuas entre judeus e alemães, nesse pós-guerra ainda não cicatrizado (a história se passa em 1960). Surge, assim, a empatia entre dois seres humanos que sofreram durante a Segunda Guerra Mundial e querem uma nova chance num país longe da Europa. Já não representam um coletivo, e podem se ajudar. O Sr. Polsky avisa para o Sr. Herzog que as autoridades virão interrogá-lo, e assim ele pode fugir e evitar que seu esquema desonesto seja descoberto. Em troca, Herzog concede ao vizinho o direito à porção de terra que perdera.
Meu Vizinho Adolf! tem uma boa direção do cineasta russo Leon Prudovsky, aqui em seu terceiro longa-metragem. Destaca-se o trabalho de montagem que ele utiliza, empregando planos que ajudam a contar a história sem a necessidade da verbalização. E a cena dos dois vizinhos conversando com a cerca no meio deles, imagem que ilustra o poster, é um achado. Os figurinos, ademais, conseguem aproximar os dois personagens de um prisioneiro num campo de extermínio e um soldado nazista com um cão.
Mas a direção não é um supra-sumo, pois falha na confusa cena em que o cachorro ataca o Sr. Polsky quando ele invade a casa vizinha, e não consegue construir um suspense intenso quando a trama pede. Além disso, exagera no uso da trilha musical divertida para enfatizar o tom cômico. Mas, é um filme agradável, e que ainda consegue fazer graça com um assunto extremamente delicado. Acerta, sobretudo, ao não humanizar o genocida Hitler, mas alguém que também sofreu sob o seu regime.
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Ficha técnica:
Meu Vizinho Adolf! | My Neighbor Adolf | 2022 | 96 min | Colômbia, Israel, Polônia | Direção: Leon Prudovsky | Roteiro: Leon Prudovsky, Dmitry Malinsky | Elenco: David Hayman, Udo Kier, Kineret Peled, Olivia Silhavy, Jan Szugajew, Danharry Colorado, Jaime Correa.
Distribuição: A2 Filmes.