Millennium: A Garota na Teia de Aranha leva Lisbeth Salander para uma aventura de espionagem.
Há alguns anos, Hollywood comeu bola quando resolveu condensar em um só filme os livros da trilogia “Millennium” escrita pelo sueco Stieg Larsson. O resultado, Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), decepcionou. E, mesmo contando com o diretor David Fincher e os astros Daniel Craig e Rooney Mara, fracassou nas bilheterias.
Já os três filmes produzidos na Suécia, com Noomi Rapace e Michael Nyqvist, são bem mais fiéis ao clima dos livros e muito superiores, mesmo com orçamentos menores.
Então, surgiu um quarto livro sobre a personagem Lisbeth Salander. Mas, escrito por David Lagercrantz, e não pelo autor dos livros anteriores, pois Stieg Larsson morreu em 2004. Com isso, sobrou para os americanos filmarem esse Millennium: A Garota na Teia de Aranha.
Na direção
E, na direção do novo filme, os produtores optaram por colocar um nome promissor, no lugar de um já consagrado como David Fincher. Para isso, o uruguaio Fede Alvarez se credenciou com seu excelente filme anterior, o suspense O Homem Nas Trevas (Don’t Breathe, 2016). Já no elenco, resolveram sacar a dupla Daniel Craig e Rooney Mara, que se saíram muito bem no filme de 2011. Nos seus lugares, entraram o insosso Sverrir Gudnason, cujo único diferencial é ser sueco, e Claire Foy, famosa pela série The Crown, totalmente inadequada para o papel.
É certo que o diretor queria uma escolha não óbvia para viver Lisbeth Salander. Por isso, cogitara Natalie Portman, Scartlett Johansson, Felicity Jones e Alicia Vikander. Destas, Vikander caberia por ser sueca e capaz de encabeçar filmes de ação, como provou com Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider, 2018), e Scarlett Johansson, que é a melhor atriz desse grupo. Fora dessa lista, quem funcionaria muito bem, seria Krysten Ritter, que protagonizou a série Jessica Jones. Afinal, essa personagem possui muitos pontos em comum com Lisbeth Salander, ambas heroínas radicais, antissociais, sexy e violentas.
Com isso, em Millennium: A Garota na Teia de Aranha, Lisbeth Salander carece daquela característica ameaçadora. Ou seja, daquele seu comportamento imprevisível que, quase sempre, descamba em violência radical. O visual é quase o mesmo, mas o rosto delicado de Claire Foy filtra o perigo que representavam Rooney Mara e Noomi Rapace quando interpretaram o papel.
A origem da rebeldia
A estória explora a origem desta rebeldia de Salander ao revelar que o pai abusava dela e da irmã desde a infância, logo no prólogo. Porém, o filme não consegue mergulhar nos traumas sexuais que pontuaram os livros de Larsson e a trilogia sueca para o cinema. Além disso, Claire Foy não transpira a sensualidade de Salander, mesmo vestindo shorts curtos e roupas pretas justas.
Na trama, contratam Lisbeth Salander para usar suas habilidades de hacker no roubo de um aplicativo que pode comandar todas as armas nucleares do mundo. Em outras palavras, Lisbeth Salander ganha uma missão digna de James Bond, e o filme sofre essa influência. Dessa forma, a trama envereda pelo gênero espionagem. E o suspense perde a característica sombria da trilogia “Millennium”, que representava o que os livros tinham de mais cativante. Afinal, o mistério em Millennium: A Garota na Teia de Aranha não possui nada de sinistro e, quando é revelado, parece óbvio demais.
No início, Millennium: A Garota na Teia de Aranha deixa uma expectativa alta, com o prólogo com o pai abusivo. Ademais, a primeira aparição de Lisbeth Salander é impressionante. Como se fosse um anjo negro, a vemos em um plano que a coloca em frente de uma estátua alada. O uso das cores também se destaca, já que o filme apresenta tons escuros ou muito brancos (pela neve), e a vilã do filme ostenta um vestido com um vermelho escarlate muito vibrante, que a sobressai do resto.
Porém, a frustração predomina. Afinal, assistimos a um filme de aventura de espionagem, distante do suspense tenso que combina com a personagem Lisbeth Salander.
Ficha técnica:
Millennium: A Garota na Teia de Aranha (The Girl in the Spider’s Web, 2018) Reino Unido/Alemanha/Suécia/Canadá/EUA. 117 min. Dir: Fede Alvarez. Rot: Steven Knight, Fede Alvarez, Jay Basu. Elenco: Claire Foy, Sylvia Hoeks, Lakeith Stanfield, Sverrir Gudnason, Cameron Britton, Andreja Pejic, Sonja Chan, Christopher Convery, Andreja Pejic.