Mochila de Chumbo está na Competição de Novos Diretores da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Seu diretor, Darío Mascambroni, foge do tradicional centro cinematográfico de Buenos Aires, e realiza em Córdoba este filme com forte ênfase no realismo.
O enredo
Tomás (Facundo Underwood) é um menino de 12 anos cujo pai foi assassinado e agora vive somente com sua mãe, que lhe dá pouca atenção. Desleixada, cabe então a Tomás buscar uma camiseta não tão fedorenta entre as roupas sujas que se acumulam esperando para ser lavadas, para ir para a escola sozinho. Constantemente atrasado, e ainda sem vestir o uniforme, acaba recebendo uma suspensão. Então, o tempo livre lhe dá oportunidade para ficar perambulando com os amigos pela vizinhança, no subúrbio onde mora, até mesmo durante a noite. Eventualmente, um amigo lhe confia uma arma, e ele planeja usá-la contra o assassino de seu pai, que está saindo da prisão.
Subúrbio de Córdoba
Filmado em locações nos subúrbios pobres de Córdoba, Mochila de Chumbo evidencia a fragilidade de uma criança crescendo em um ambiente hostil. Assim, ele fica à mercê de uma violência não explicitada no filme, mas indicada no relacionamento com outros meninos. Por exemplo, quando o próprio Tomás briga com um garoto para roubar seu dinheiro. As ruas, em geral, estão vazias, o que acentua a impressão de que Tomás está livre para fazer o que quiser. Aliás, esse ambiente onde as crianças vivem livres pelas ruas perigosas se assemelha ao de Projeto Flórida (The Florida Project, 2017), premiado filme de Sean Baker.
Além das locações, a ausência de trilha sonora e a contratação de não-atores (inclusive o excepcional ator mirim que interpreta o protagonista), evidencia a busca pelo retrato realista desse microcosmo da periferia argentina. Na verdade, uma tendência recorrente na cinegrafia latina deste século. No entanto, ao contrário desses filmes, a conclusão de Mochila de Chumbo insere uma inesperada dose de esperança, sem deixar o realismo de lado. Apesar dela, continua autêntica a decisão de Tomás em estancar a perpetuação da violência. Ou sejam seu ato misericordioso evita que a satisfação de sua vingança detone semelhante reação posteriormente, se transformando em um ciclo sem fim.
De fato, a sublimação de seu ódio abre as portas para a transformação de seu relacionamento com a mãe. Por isso, a primeira conversa decente entre os dois acontece justamente depois de Tomás optar pela alternativa não violenta. Dessa forma, o viés realista embala o filme de Darío Mascambroni como uma sugestão de solução possível e não fantasiosa no estilo Frank Capra. Assim, serve como um alívio de que não há determinismo para quem cresce em um ambiente não favorável.
Ficha técnica:
Mochila de Chumbo (Mochila de Plomo, 2017) Argentina. 70 min. Dir: Darío Mascambroni. Rot: Darío Mascambroni, Florencia Wehbe, Pipi Papalini. Elenco: Facundo Underwood, Gerardo Pascual, Agustín Rittano, Elisa Gagliano, Osvaldo Wehbe.
Assista também: entrevista com o diretor Darío Mascambroni