“Moonlight: Sob a Luz do Luar”: O vencedor do Oscar de 2017 prima pela suavidade e pela profundidade
“Moonlight” surpreende pela sensibilidade com que lida com o despertar da consciência da homossexualidade de Chiron. Ele é um rapaz negro pobre com uma mãe (Naomi Harris) viciada em drogas, que seu pai (Mahershala Ali) havia abandonado.
O filme começa com o pai Juan retornando à vida de Chiron, a fim de resgatá-lo dos problemas da mãe. Juan é um traficante, e quando desce do carro para falar com um comparsa, a câmera o segue e rodopia ao redor dos dois, para depois balançar acompanhando o movimento de corpo desse rapaz. Esse plano sequência só é interrompido para cortar para Little, apelido de Chiron quando criança, sendo perseguido por outros meninos que zombam de seus trejeitos. Ao se esconder em uma casa abandonada, Juan o encontra sem se identificar, e o leva para casa, para acalmá-lo e dar-lhe comida e abrigo. Somente no dia seguinte o filme revela que Juan é o pai de Little.
No capítulo seguinte, Chiron já é adolescente. Mas ainda enfrenta a agressividade dos colegas de escola, que o reconhecem como gay, apesar de ele ainda não ter consciência disso. A fotografia (de James Laxton) até então, reflete as altas temperaturas de Miami, onde a história se passa. Há uma insistência no recurso de manter o brilho saturado e o fundo com intenso desfoque. Ademais, reflexos de luzes aparecem na tela, o que em cinema convencional seria um erro crasso do fotógrafo. Em termos narrativos, esse estilo causa desconforto no público, retratando também o incômodo que perturba Chiron.
Leveza
A cena em que Chiron vivencia sua primeira experiência sexual, com um amigo, prefere uma abordagem sensível a imagens mais explícitas, até mesmo o ato em si não chega ao coito em si. O diretor Barry Jenkins, que já havia abordado o tema no seu único longa antes deste, chamado de “Medicine for Melancholy” (2008), acerta na leveza com que filma essa iniciação. Ao invés de um banal close up do rapaz gemendo de prazer, Jenkins faz um recorte somente da mão dele, segurando as areias da praia de acordo com a intensidade do seu êxtase. O título do filme enfatiza esse momento, que marcou a vida de Chiron.
O capítulo final mostra Chiron adulto, vivendo relativamente bem com o trabalho de traficante tal como o pai. Porém, um chamado do passado, inesperadamente vindo daquele rapaz da praia, o desperta para seus sentimentos mais autênticos. O colega Kevin já está casado, e Jenkins coloca os dois em cada canto da tela, com os desenhos do filho de Kevin no centro do quadro. Isso os mantêm separados por um breve instante, porém, a atração entre eles será mais forte.
Profundidade
Barry Jenkins consegue ser mais suave, e mais profundo ao mesmo tempo, que “O Segredo de Brokeback Mountain” (Brokeback Mountain, 2005), que se insere no gênero romance, enquanto “Moonlight” permanece no drama. Através de muitas elipses, com cenas extremamente poéticas (além da cena noturna na praia, há também a expressão sincera do amor do pai ensinando Little a nadar), Jenkins se centra no drama íntimo do personagem que descobre, aos poucos, sua sexualidade.
O diretor ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, Mahershala Ali o de melhor ator coadjuvante e “Moonlight” foi eleito o melhor filme pela Academia, batendo o favorito “La La Land”. Com poucos meses de governo Donald Trump, os membros fizeram questão de demonstrar que neste momento preferem conscientizar que entreter.
Ficha técnica:
Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016) 111 min. Dir/Rot: Barry Jenkins. Com Mahershala Ali, Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Naomie Harris, Janelle Monáe, Jaden Piner, Duan Sanderson, Edson Jean, Patrick Decile, Jharrel Jerome, Trevante Rhodes, Stephon Bron, André Holland.
Assista: Barry Jenkins fala sobre “Moonlight”