Morte a Pinochet (Matar a Pinochet) vai na cola dos filmes sobre tentativas de assassinar Adolf Hitler – como Operação Valquíria (Valkyrie, 2008) e Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards, 2009). O alvo aqui é o ditador chileno Augusto Pinochet, e o ataque aconteceu realmente, em 7 de setembro de 1986.
Um componente verídico acrescenta o potencial dramático para contar essa história no cinema. Referimo-nos ao fato de uma das comandantes da operação ser uma mulher, a única com esse posto na Frente Patriótica Manuel Rodríguez. Interpretada por Daniela Ramírez, Tamara (codinome de Cecília Magni) possui características que tornam sua personagem distinta. Socióloga de formação, ela abdicou de sua família rica, inclusive sua filha pequena, para viver na clandestinidade. E o filme explora esses aspectos, humanizando a revolucionária nas cenas nas quais ela se encontra com o pai, com a filha, com a irmã etc. Já seriam suficientes, mas o roteiro entra em redundâncias, como a entediante conversa com o companheiro da Frente Patriótica sobre seus sacrifícios.
Além disso, ao invés de se aprofundar nessa interessante personagem, Morte a Pinochet prefere expandir o protagonismo. Então, entram Sacha (Gastón Salgado), representando a classe baixa da sociedade, e o ex-professor Ramiro (Cristián Carvajal), entre outros. Nenhum com particularidades expressivas, e todos se equiparam em presenças neutras.
Anticlímax
O filme ainda desperdiça a oportunidade de seguir o formato do heist movie, adotado nas duas produções citadas acima sobre atentados a Hitler. Em outras palavras, o enredo poderia explorar o planejamento do atentado de forma mais detalhada, expondo todos os pontos que deveriam dar certo para que o objetivo fosse atingido. Com isso, talvez a cena do ataque não fosse tão terrível como está no filme. Ou seja, mal filmada e confusa, nem sabemos se Pinochet morreu ou não. E esse pico dramático acontece muito cedo, obrigando o diretor, Juan Ignacio Sabatini, estreante em longas, a alongar o filme por mais vinte minutos para contar o que aconteceu com os protagonistas. Nessa conclusão, há pelo menos uma surpresa, pois Tamara foi a narradora que nos acompanhou durante toda a história.
Embora o tema do combate à ditadura seja novamente atual, diante da ascensão da extrema direita, este Morte a Pinochet soa frouxo. Um pouco pela falta de experiência do diretor, mas principalmente porque o roteiro não expõe as atrocidades da ditadura chilena (salvo as repressões aos revolucionários). Além disso, se perde ao expandir os protagonistas e na construção de uma narrativa que pede para culminar no atentado. Poderia ser um filme politicamente incendiário, mas tem temperatura morna demais.
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Ficha técnica:
Morte a Pinochet | Matar a Pinochet | 2020 | 81 min | Chile | Direção: Juan Ignacio Sabatini | Roteiro: Juan Ignacio Sabatini, Nazareno Obregón Nieva, Pablo Paredes | Elenco: Daniela Ramírez, Cristián Carvajal, Juan Martín Gravina, Gabriel Cañas, Gastón Salgado, Julieta Zylberberg, Luis Gnecco.
Distribuição: A2 Filmes.