George Gallo é um cineasta orientado à estória. Por isso, escreve muitos roteiros. Começou na indústria do cinema, inclusive, como coautor de Quem Tudo Quer, Tudo Perde (Wise Guys, 1986), de Brian De Palma. Logo depois, assinou o roteiro de Fuga à Meia-Noite (Midnight Run, 1988), de Martin Brest. Por isso, como diretor, é até natural que escolha boas narrativas para filmar. Como exemplo, podemos citar A Rosa Venenosa (The Poison Rose, 2019) e Vigaristas em Hollywood (The Comeback Trail, 2020). No entanto, George Gallo não possui o mesmo talento para dirigir, o que explica que seus filmes nunca consigam se destacar. Muti: Crime e Poder resume perfeitamente esses dois aspectos: uma boa estória, porém mal dirigida.
Em Muti: Crime e Poder, o detetive Lucas Boyd (Cole Hauser) investiga horrorosos assassinatos em Clinton, Mississipi. Diante dos vestígios de rituais – amuletos, inscrições com sangue e corpos mutilados – Lucas pede ajuda ao especialista Dr. Mackles (Morgan Freeman, constante colaborador de George Gallo). Logo, o veterano professor identifica que se trata de um muti, um ritual africano que usa determinados órgãos humanos para dar poderes especiais a uma pessoa. Juntos, eles encaram o sinistro sacerdote Randoku (Vernon Davis), responsável por esses crimes.
Aliás, como essa sinopse indica, o filme deveria manter o título “Muti – Rituais Mortais”. Assim está na ficha técnica do cartaz do filme exposto na sessão para a imprensa. Seria um nome bem mais chamativo do que o escolhido para distribuição, pois “Crime e Poder” dá uma falsa ideia de estar ligada a um esquema político.
Direção sem inspiração
Essa trama sombria ganha algumas imagens gore no filme. Mas, não são suficientes para criar uma atmosfera sinistra, por conta da fotografia, da música, da edição, enfim, da direção. A cena final, por exemplo, é filmada numa sala com iluminação clara, câmera fixa distante demais num plano sem cortes que causem choque, nem música ou som para ajudar a construir o tom que o momento pede. Da mesma forma, o filme mostra um dos crimes, com o feiticeiro cantando um mantra, mas sem conseguir seja aterrorizante como deveria. A repetição do canto, na verdade, corre até o risco de parecer engraçada.
E falta a George Gallo a inspiração para desenvolver cenas envolventes. Tome, como exemplo, a notícia do que acontece com a parceira do detetive Lucas. No filme, a médica explica verbalmente para ele o que aconteceu. Porém, a cena seria muito mais emocionante se víssemos o que se passou, mesmo que fosse num flashback.
Além disso, a narrativa desperdiça tempo demais com os crimes que acontecem em Roma. Tudo bem iniciar o filme com um deles e com a perseguição ao vilão, pois serve para apresentar o quanto ele é perigoso e forte. Mas, continuar a voltar ao investigador quando o enredo já está no Mississipi só atrapalha o desenrolar da trama.
Os personagens
Quanto aos personagens, Morgan Freeman ganha um papel enigmático que surpreende ao final. Já o menos talentoso Cole Hauser desperdiça o personagem que tem em mãos. Embora tenha a devida profundidade (o detetive perdeu a filha por um erro seu e destruiu assim seu casamento), o ator não dá conta do recado. É até estranha a sua expressão quando o personagem de Morgan Freeman expõe os seus conhecimentos sobre o ritual.
Por sua vez, o homem do mal por trás da contratação do ritual, Shelby Farner (Brian Kurlander), soa carnavalesco demais, sem nunca justificar o motivo de sua obsessão por poder. Pelo menos, o corpulento Vernon Davis aproveita seu físico para construir um vilão perigoso e difícil de derrotar. Com uma direção melhor, Randoku se tornaria ainda mais ameaçador. Enfim, é o mesmo que podemos dizer do filme em si. Com um diretor melhor, essa história, que é interessante, ganharia muito mais emoção. Imagine-a nas mãos de Brian De Palma, só para falar de um diretor já citado nessa crítica.
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Ficha técnica:
Muti: Crime e Poder | The Ritual Killer | EUA | 2022 | 93 min. | Direção: George Gallo | Roteiro: Bob Bowersox, Jennifer Lemmon, Joe Lemmon, Francesco Cinquemani, Giorgia Iannone, Luca Gilberto, Ferdinando Dell’Omo | Elenco: Morgan Freeman, Cole Hauser, Vernon Davis, Murielle Hilaire, Peter Stormare, Mayumi Roller, Julie Lott, Paul Sampson, Ron Goleman, Luke Stratte-McClure.
Distribuição: A2 Filmes.
O filme estreia dia 24 de agosto de 2023 nos cinemas brasileiros.
Veja o trailer aqui.