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Não! Não Olhe! (filme)
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Não! Não Olhe!

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Em seu terceiro filme, Não! Não Olhe! (Nope), o prestigiado cineasta Jordan Peele entra pela primeira vez na ficção científica. O terror sai de cena, mas continuam o suspense e os títulos curtos. O ritmo é menos acelerado (e apressado) do que em sua estreia Corra! (Get Out!, 2017). E não se repete o tom sombrio de Nós (Us, 2019). Podemos detectar uma guinada de Peele em direção à mescla sci-fi + mystery que M. Night Shyamalan explorou em Sinais (Signs, 2002).

A história de Não! Não Olhe! se passa em Agua Dulce, no interior da Califórnia. OJ Haywood (Daniel Kaluuya) testemunha a morte do pai, atingido por um objeto que cai do céu. Seis meses depois, ele e sua irmã Emerald (Keke Palmer) estão em dificuldades para manter o rancho da família. Mas, estranhos fenômenos acontecem no local, e eles resolvem filmar o que acreditam ser OVNIs para ganhar dinheiro com os vídeos.

A ideia do filme é criativa, quebrando as expectativas ao explorar as crendices gerais sobre naves alienígenas. É muito provável que a revelação do mistério nos céus de Agua Dulce seja realmente uma surpresa para o público, apesar de que o trailer revela demais, talvez até para induzir o espectador a uma errada conclusão. Além disso, o roteiro (também de Jordan Peele) encontra soluções verossímeis que, dentro desse cenário fantástico, fazem sentido. E, ainda mostram ações inteligentes dos seus protagonistas, o que é uma benção para nós espectadores (e uma raridade no cinema).  

Longe do terror

Porém, estranhamos que Jordan Peele praticamente não recorra ao terror. Exceto por dispensáveis cenas de sustos falsos e na interessante cena da chuva de sangue, o horror está presente basicamente na sequência do chimpanzé que era usado como ator em uma série de TV nos anos 1990, e que se rebelou violentamente atacando os atores. O fato não tem relação direta com a trama principal, mas provavelmente Peele a insere como meio para levantar a bandeira racial, como fez nos filmes anteriores. Por isso, o chimpanzé só poupa um ator, o garoto asiático, o único não branco da família que os adotou. Em adição, o chimpanzé age agressivamente como os duplos de Nós, que representam a versão impulsiva das pessoas.

A bandeira racial também surge em pílulas nos diálogos, como quando a mulher no estúdio de gravação se assusta com o nome do protagonista (OJ), que ela conecta com o ator negro O.J. Simpson, acusado por assassinato.

Não! Não ouça!

A trilha sonora salta como o principal problema do filme. A música de Michael Abels (o mesmo dos primeiros filmes de Peele) sufoca, pois está exageradamente presente. Chega ao ponto de confundir o espectador, que não distingue se o que ouve é um som do fenômeno (que é essencial para as cenas) ou parte da composição musical. Nesse aspecto, Peele e Abels deixam escapar a oportunidade de tornar o som um elemento essencial para moldar o clima das cenas. Aliás, como fizeram com louvor John Krasinski e Marco Beltrami em Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018).

Por fim, vale comentar sobre as referências ao faroeste em Não! Não Olhe!, remetendo à mistura de gêneros com viés de homenagem comum à filmografia de Quentin Tarantino. Fora o cenário do rancho no Oeste americano, vemos até um improvável duelo entre o vilão e o mocinho da história, e uma aparição gloriosa do herói perto da conclusão. E tudo com uma música que lembra o western.

É fato que Não! Não Olhe! carece de mais suspense, mas Jordan Peele merece aplausos por sair do conforto de seu terreno habitual. E mantendo a inteligência que moldou seus primeiros trabalhos.


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