Dirigido pelo especialista em suspense e terror Alejandre Aja, Não Solte! (Don’t Let Go) desafia o espectador a descobrir se o filme trata de uma distopia ou de um delírio. No primeiro terço do enredo, divido formalmente em três partes, a narração de um menino explica a situação sem questionar as determinações da sua mãe, interpretada por Halle Berry. Ela exige que os dois filhos gêmeos só saiam da casa (uma velha construção de madeira em meio a uma grande floresta) amarrados a uma corda. A casa os protege dos demônios que estão ao redor e que já levaram o restante da população. Então, eles que são os únicos sobreviventes devem estar sempre dentro da casa ou conectados a ela através de uma corda.
O cenário parece artificial, com a vegetação em cores vívidas demais para soarem naturais. Talvez elaborado em computador ou ajustado com um programa, o entorno confere um clima de conto de fadas, que se alinha à narração em voz infantil. Tudo isso gera uma integração ao conjunto de personagens composto por uma mãe e seus dois filhos. E ao tema, que se apoia na máxima de obedecer às recomendações dos pais.
O espectador acompanha o terror conforme alertado pela mãe. Como eles precisam sair para procurar comida, que se resume a vegetais, larvas e sapos, os monstros demoníacos aparecem, e são de fato medonhos. Querem levar os sobreviventes para o mundo deles. Mas, o detalhe de serem pessoas conhecidas (o marido e a mãe da personagem de Halle Berry) que foram transformadas acende um alerta no público. Seriam criaturas reais ou fruto da mente da mãe?
A verdade
É essa dúvida que surge na segunda parte. Num momento de alta dramaticidade, em que a mãe, desesperada porque todos estão morrendo de fome, decide sacrificar o cachorro Koda, um dos meninos se rebela e questiona se os demônios existem de verdade. As consequências são dramáticas, e não resolvem essa dúvida, que se manterá em aberto até a foto da última cena esclarecer a questão.
Um pouco antes disso, o filme, até então consistente, se perde no epílogo. Abre exceções que contrariam os que o enredo pregou antes (o demônio consegue entrar na casa?), e apela para uma solução improvável para salvar um dos protagonistas quando acontece o incêndio. Além disso, o desfecho seria mais poderoso se não limitasse a interpretação através da foto.
Alexandre Aja conduz bem o filme – como fez em Predadores Assassinos (Crawl, 2019) – nas duas primeiras partes. Mas, no terço final acaba soltando o fio principal da trama concluindo com um desfecho abaixo do esperado.
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Ficha técnica:
Não solte! | Never Let Go | 2024 | 101 min. | EUA, Canadá, França | Direção: Alexandre Aja | Roteiro: Kc Coughlin, Ryan Grassby | Elenco: Halle Berry, Percy Daggs IV, Anthony B. Jenkins, William Catlett, Kathryn Kirkpatrick.
Distribuição: Paris Filmes.