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Apenas Uma Vez (Once)
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Apenas Uma Vez (Once)

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Apenas Uma Vez (Once) surpreende por ser um pequeno e apaixonante filme musical. Não com danças e diálogos cantados, o que geralmente exige orçamento generoso, mas com a música como centro da trama. Seu diretor, John Carney, tem origem na cena do rock irlandês. Foi baixista da banda The Frames, entre 1991 e 1993. Nesse grupo, conheceu e fez amizade com o vocalista Glen Hansard. Então, enquanto pedia sua colaboração para compor as canções de Apenas Uma Vez, resolveu chamá-lo para interpretar um dos protagonistas. Desconsiderando uma ponta no filme The Commitments (1991), esta foi sua estreia como ator.

Da mesma forma, como coprotagonista John Carney escalou Markéta Irglová, jovem musicista que Glen Hansard conhecia. Uma ótima escolha, pois a presença desses dois não-atores, que estão mais à vontade interpretando música do que atuando, combina com o estilo quase documental adotado pelo diretor. Por opção e necessidade, o uso da câmera na mão faz parte do micro-orçamento desse indie film. Portanto, não soa artificial como nas muitas produções contemporâneas com budget maior que forçam esse recurso. Em Apenas Uma Vez, o prólogo até causa estranheza. A câmera parece que está escondida, capturando a performance do personagem Glen Hansard, que toca nas ruas de Dublin para receber alguns trocados dos pedestres. A sequência termina de forma engraçada, como se fosse um vídeo televisivo de programa de pegadinhas.

O começo de uma bela amizade

É nesse cenário que entra a personagem de Markéta Irglová, que parece interpretar a si mesma. No filme, ela é uma pianista que emigrou da sua República Tcheca para a Irlanda. Trouxe junto a sua mãe e sua filha bebê, deixando o seu marido para trás. Tenta ganhar a vida com bicos, mas seu prazer é tocar piano. Com seu inglês meio capenga, ela retrata a espontaneidade e desinibição de quem vive num país estrangeiro e sabe que precisa se aculturar, misturando-se com as pessoas locais. Por isso, força uma conexão com o músico de rua vivido por Hansard, num diálogo delicioso, que resulta no inusitado reencontro no dia seguinte, tendo um aspirador de pó com defeito como elo.

Então, o filme cresce com a química musical entre esses dois desconhecidos. De forma improvisada, Hansard mostra uma de suas composições para Markéta, e esta o acompanha no piano. A canção é “Falling Slowly”, uma joia rara que até ganhou um surpreendente Oscar de melhor canção original, derrotando os indicados pesos-pesados de Encantada (Enchanted, 2007), da Disney. O entrosamento imediato faz os protagonistas trabalharem em outras canções. Logo, o personagem de Hansard decide gravar um CD em estúdio com Markéta, recrutando outros músicos de rua.  

Em paralelo, o arco desses personagens acompanha o crescimento da amizade. Ambos possuem um amor frustrado. Markéta se separou do marido que ficou na Tchéquia, enquanto a namorada de Hansard o largou e foi morar em Londres. As letras das canções exprimem esse sentimento de vazio. No caso dele, há também uma montagem com vídeos caseiros com a amada. Por esse motivo, o enredo não caminha para o romance entre os protagonistas, concentrando-se na bela amizade que se desenvolve em tão curto tempo.

Sintonizada pela música

Além da música, o charme de Apenas Uma Vez está no estilo despojado da direção de John Carney. O cineasta se deixa influenciar pela nouvelle vague. Isso fica muito evidente no plano-sequência que acompanha Markéta cantando uma composição nova no trajeto do mercado até sua casa. A sequência acontece nas ruas, com os transeuntes olhando curiosamente para a câmera (tem até uma criança que vai seguindo a filmagem).

Enfim, é um filme independente que combina com a amizade sincera sintonizada pela música. Um tema universal, característica ressaltada pela omissão do nome dos dois protagonistas. O resultado é um acerto raro, que o diretor John Carney conseguiu ainda retomar, em parte, em seus filmes musicais posteriores, com tema semelhante. Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again, 2013) e Sing Street: Música e Sonho (2016), que contam com orçamento maior, seguem a mesma trilha e chegam perto de Apenas Uma Vez.

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Ficha técnica:

Apenas Uma Vez | Once | 2007 | 86 min | Irlanda, EUA | Direção e roteiro: John Carney | Elenco: Glen Hansard, Markéta Irglová, Hugh Walsh, Gerard Hendrick, Alaistair Foley, Geoff Minogue, Bill Hodnett, Danuse Ktrestova, Marcella Plunkett.

Onde assistir:
Apenas Uma Vez (Once)
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