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Nardjes A. (filme)
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Nardjes A.

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

O documentário Nardjes A. foi filmado num smartphone durante apenas 24 horas, no dia 8 de março de 2019. Essa informação, que aparece logo no início do filme, pode desestimular alguns espectadores que logo imaginam imagens ruins e tremidas na tela. Descarte esse temor, pois o experiente cineasta Karim Aïnouz não permite que isso aconteça. Na verdade, a imagem treme muito menos do que em muitas produções (filmes ou séries contemporâneos) que abusam da câmera trêmula como prova de modernidade.

O celular, segurado com mão firme ou talvez com um estabilizador, acompanha um dia na vida da ativista argelina Nardjes. Realizado como homenagem de Karim Aïnouz ao seu avô argelino, o diretor faz questão de explicar o contexto para o espectador internacional. Assim, informa que, após a Argélia deixar de ser colônia da França, em 1962, os libertadores se transformaram em opressores. Quando o presidente Abdelaziz Bouteflika anuncia que tentará a reeleição para seu quinto mandato, o povo protesta.

Dia de hirak

Então, acompanhamos Nardjes, que faz a narração em primeira pessoa. A jovem inicia seu dia ansiosa. É dia de “hirak”, a manifestação nas ruas que acontece todas as sextas-feiras contra a reeleição de Bouteflika. Faz toda a diferença, para o filme, que Nardjes demonstre total adesão a esse movimento. Ademais, com a sorte de ter selecionado uma pessoa com tremendo carisma e que fica à vontade diante da câmera.

Ao individualizar o protesto, Aïnouz alcança a empatia do espectador, que assim compreende a explosão emocional que a jovem descarrega ao fim desse dia intenso. Afinal, apesar das cantorias e sorrisos dos manifestantes, o engajamento reflete a seriedade dessa luta. Os governantes abusam do poder, roubam, oprimem e até fazem desaparecer alguns cidadãos, como vemos num trecho que mostra as mães que perderam seus filhos.

No filme, a polícia está sempre por perto. Em certo momento, a tropa de choque esguicha água nos manifestantes. Surge certa tensão, e Nardjes admite que sempre teme que o movimento pacífico seja retaliado com violência pelo governo. Depois, as coisas se acalmam, mas a jovem ativista só consegue ir para casa dormir depois de passar antes num bar para relaxar com os amigos.

O uso da câmera coloca o espectador muito próximo de Nardjes. Karim Aïnouz filma como se a câmera fosse um fantasma, observando tudo, mas sem nunca interagir na ação. Não há quebra da quarta parede, o espectador permanece sempre na posição de testemunha. Até mesmo quando Nardjes olha fixamente para a câmera, enquanto a movimentação nas ruas continua em segundo plano, não há interação. O espectador, nesse momento, é testemunha da epifania de Nardjes, ainda que não possa ler seus pensamentos.

Envolvente, Nardjes A. é um belo exemplo de documentário que emociona.

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Ficha técnica:

Nardjes A. | 2020 | 80 min | Argélia, França, Alemanha, Brasil | Direção e roteiro: Karim Aïnouz | Com Nardjes Asli.

Distribuição: Gullane.

Trailer aqui.

Onde assistir:
Nardjes A. (filme)
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