Natal Sangrento (Black Christmas) é a segunda refilmagem de Noite de Terror (Black Christmas, 1974), de Bob Clark. A primeira foi Natal Negro (Black Christmas, 2006), de Glen Morgan. A qualidade de cada um desses filmes corresponde ao calibre do seu elenco. O longa original contou com Olivia Hussey, Keir Dullea, Margot Kidder e John Saxon. Já a versão de 2006 teve Michelle Trachtenberg, Mary Elizabeth Winstead e Lacey Chabert. Mas nessa incursão mais recente, os únicos nomes conhecidos entre os atores principais são o de Imogen Poots e de Cary Elwes.
Por contar com uma diretora, Sophia Takal (em seu terceiro longa), esse slasher chama a atenção. Afinal, esse subgênero do terror costuma ter um serial killer masculino com uma mulher como principal vítima. Por exemplo, em Halloween (1978) e Pânico (2006), só para citar alguns. Ainda mais porque, nessa história com assassinatos motivados por misoginia, a protagonista Riley (Imogen Poots) tenta superar um abuso sexual que sofreu de um colega no ano anterior. Então, temos aqui um terreno fértil para dar vazão ao #metoo e outros movimentos de empoderamento feminino. Algo que, inclusive, estava presente no primeiro filme, realizado em época de feminismo efervescente.
A trama, de fato, levanta essas questões. Uma das amigas de Riley lidera um movimento para expulsar o professor machista, após já ter êxito na retirada do busto do fundador da universidade, um notório misógino. Então, quando os assassinatos começam a acontecer (além do primeiro que abre o filme), fica o exercício de descobrir o culpado entre os usuais suspeitos. A melhor cena do filme, inclusive, é aquela em que Riley e as amigas cantam uma canção de natal mudando as letras para acusar o estuprador – talvez uma crítica ao similar trecho que teve apelo sensual em Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004).
Whodunit x Slasher
Mas a diretora Sophia Takal erra ao deixar que o filme seja mais um whodunit do que um slasher. A violência morna frusta o espectador, pois as cenas de mortes, que são várias, deixam de fora da tela os detalhes mais gráficos. Há ainda outras derrapadas na direção, como a redundante explicação de Riley sobre os fatos que o espectador já viu e que, aliás, até a personagem para quem ela conta isso dentro do carro também já sabe. E essa redundância retorna em outro momento perto do final, quando repete trechos dos acontecimentos anteriores.
Para piorar, a revelação do grande mistério a respeito das mortes acaba sendo ridícula. Daí para frente, o que já estava difícil de assistir se torna insuportável, culminando numa briguinha entre homens e mulheres. Enfim, um filme terrível de ruim, bola fora da produtora Blumhouse, especialista em terror. Seu único mérito, talvez, seja despertar a curiosidade sobre o primeiro “Black Christmas”, dirigido por um cineasta que ficaria famoso pelas comédias picantes.
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Ficha técnica:
Natal Sangrento | Black Christmas | 2019 | 92 min | EUA | Direção: Sophia Takal | Roteiro: Sophia Takal, April Wolfe | Elenco: Imogen Poots, Aleyse Shannon, Lily Donoghue, Brittany O’Grady, Caleb Eberhardt, Cary Elwes, Simon Mead, Madeleine Adams, Nathalie Morris.