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Nosso Sonho (filme)
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Nosso Sonho

Avaliação:
5/10

5/10

Crítica | Ficha técnica

Nosso Sonho transforma Claudinho em figura mística. Por conta disso, o subtítulo “A história de Claudinho e Buchecha” não representa fielmente o que vemos na tela. O longa, de fato, conta a história somente de Buchecha, desde sua origem humilde, até o conflito com o pai alcoólatra que o faz fugir de casa para morar com a tia. Quanto ao seu parceiro, o roteiro quase nem toca na sua vida pessoal – não mostra sua família, apenas a namorada que surge na trama. Assim, cabe a Buchecha narrar o que se transforma na mistificação do seu amigo, morto prematuramente em um acidente de carro. Segundo sua narração, Claudinho salvou sua vida duas vezes.

Na infância, o “anjo da guarda” Claudinho (como diz a voz over) salvou Buchecha do afogamento. Na vida adulta, guiou as suas decisões com a frase “todo mundo merece uma segunda chance”, aplicada no perdão ao pai e na retomada da carreira após a tragédia. Aliás, a morte antes da hora de um parceiro de uma dupla musical de sucesso fugaz foi o centro de outra cinebiografia recente, Legalize Já (2018), sobre o Planet Hemp, um filme mais consistente tanto em sua forma quanto em seu tom.

Esse viés místico fica mais óbvio quando Claudinho age como se previsse sua própria morte. Ou seja, ao escolher alguns CDs e pedir ao parceiro que os entregue à filha quando ela fizer 15 anos. Da mesma forma, no último show da dupla, ao sair do palco e deixar Buchecha sozinho para que ele veja que pode continuar após a sua partida. Além disso, antes ele já havia selecionado para o repertório a canção “Fico Assim Sem Você”, cuja letra fala sobre separação.

Um musical de raiz

Nosso Sonho possui várias elipses e coincidências que só não caem no descrédito se considerarmos essa pegada fantástica. As elipses, por exemplo, deixam de fora o momento específico do quase afogamento (substituído por uma tela preta), e atos violentos envolvendo o pai (quando este briga no bar e quando o filho o agride).

Mas, se era para fazer um filme fantasioso sobre uma dupla de cantores, por que não optar por um musical? Um daqueles musicais de raiz, com atores dançando e cantando a narrativa. Seria uma decisão corajosa, claro, porém o formato aceitaria bem a ascensão fácil ao sucesso que o filme mostra. E até mesmo as várias coincidências ao longo da trama, como reencontrar o amigo logo ao chegar no bairro onde ele procura sua tia (sem o endereço dela, só com uma foto). Se não bastasse, Claudinho reconhece a tia de Buchecha pela fotografia. Ainda por cima, logo depois que os dois amigos se reencontram após anos, imediatamente eles caem num baile funk onde toca uma música que fala sobre, obviamente, amizade. Neste filme, tudo isso soa forçado, mas num musical soaria natural e fluído.

Não por acaso, uma das poucas cenas que funcionam parece mesmo saído de um musical. Enquanto a dupla canta um dos seus hits, “Só Love”, na TV, a namorada de Buchecha vai lendo vários cartões postais, cada um de uma cidade diferente no exterior. Dessa forma, divertida, a cena comunica que os dois chegaram até a fazer uma turnê mundial.

As obviedades

Curiosamente, o filme evita mostrar a dupla compondo seus maiores sucessos e criando os passos de dança que ficaram famosos. Há, na verdade, uma cena com esse último quesito, mas que não inclui as poses mais conhecidas (com a mão no nariz e o outro braço estendido). Será que o diretor Eduardo Albergaria (neste seu segundo longa narrativo) quis fugir do óbvio?

Não pode ser, pois as obviedades estão abundantes em Nosso Sonho. Por exemplo, em dois momentos um personagem fala o título do filme, um recurso para lá de pedante. Da mesma forma, um dos protagonistas aparece vomitando, cacoete do cinema atual para caracterizar o nervosismo. Além disso, há um uso exagerado daqueles detalhes do enredo que retornam no filme como elementos cruciais. Entre eles, a briga do pai por causa de um cigarro, a futura namorada que aparece na casa da tia, o carrinho de brinquedo de Claudinho (o famigerado sonho de consumo), e os já citados CDs para a sua filha e a canção sobre “futebol sem bola”.

Mesmo com essas falhas, Nosso Sonho tinha potencial para ser um bom filme – desde que fosse um musical.

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Ficha técnica:

Nosso Sonho | 2023 | 117 min | Brasil | Direção: Eduardo Albergaria | Roteiro: Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Mauricio Lissovsky, Fernando Velasco | Elenco: Lucas Penteado, Juan Paiva, Tatiana Tiburcio, Nando Cunha, Lellê, Clara Moneke, Vinicius “Boca de 09, Gustavo Coelho, Antonio Pitanga, Isabela Garcia, Negão da BL, FP do Trem Bala, Gabriel do Borel, Flávia Souza, Reinaldo Júnior.

Distribuição: Manequim Filmes.

Trailer aqui.

Onde assistir:
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