O diretor argentino Pablo Fendrik traz o faroeste para as florestas da América do Sul em seu filme O Ardor (El Ardor). Com isso, mostra que a luta por terras ainda continua sendo um conflito sem leis, resolvido na base da violência. Tema importante, que aqui ganha um toque especial também por abraçar o misticismo dos povos da mata. Contudo, faz falta uma apropriação da iconicidade do gênero, especialmente nas cenas de ação da parte final.
A sugestão do místico está na aparição de Kaí (Gael García Bernal), que emerge das águas do rio da floresta. Mas, logo o filme desmente essa possibilidade, quando ele não faz nada para evitar a morte do pai de Vania (Alice Braga), atacado por um bando de grileiros. A explicação dele é sensata (não ia adiantar nada, só causar mais mortes), porém, nada heroica.
Depois, o enredo volta a sugerir que Kaí possui algum poder fantástico. Sozinho, ele sai atrás dos bandidos para libertar Vania, que a levaram com eles. Não se explica o motivo de a sequestrarem, pois eles já conseguiram, à força, a assinatura que precisavam no contrato de venda do terreno. Nessa jornada, Kaí se conecta com uma onça, age como um guerreiro, e obtém êxito na sua missão.
O confronto final
O terceiro ato da trama é o que mais se aproxima do western. Coloca os mocinhos (Kaí, Vania e um grileiro desertor) na típica situação de aguardarem o ataque dos bandidos. E conclui com o inevitável duelo final entre Kaí e o líder do bando.
Contudo, essa parte final escancara a carência de afinidade do diretor Pablo Fendrik com o faroeste e, até, com o filme de ação. O seguimento apresenta confrontos mal dirigidos, que não captam a dinâmica que esses momentos exigem. A montagem de planos que mais confundem que comunicam não fazem jus ao gênero que contou com mestres nesse quesito, como Sam Peckinpah, Sergio Leone e John Ford. Copiar esses gênios não seria nada desabonador.
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Ficha técnica de “O Ardor”:
O Ardor | El Ardor | 2014 | 101 min | México, Argentina, Brasil | Direção: Pablo Fendrik | Roteiro: Pablo Fendrik | Elenco: Gael García Bernal, Alice Braga, Claudio Tolcachir, Chico Díaz, Jorge Sesán, Julián Tello.