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O Beco das Almas Perdidas (filme)
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O Beco das Almas Perdidas

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

O film noir O Beco das Almas Perdidas (Nightmare Alley, 1947) acompanha os altos e baixos da vida de Stanton Carlisle (Tyrone Power), um assistente de circo que se torna um famoso adivinhador.

Três mulheres

Nessa movimentada trajetória de Stanton, que o filme relata sem pressa, três mulheres possuem influência vital. Primeiro, Zeena (Joan Blondell), a adivinha do circo que o acolhe e lhe ensina o truque dos códigos que ela usava nas apresentações com o marido Pete (Ian Keith). Como este se tornou um alcoólatra, o casal parou de performar esse número, apesar de seu sucesso. Stanton flerta com Zeena, mas ela é suficientemente experiente para não se iludir com as intenções desse ambicioso rapaz.

Após causar a morte de Pete por acidente, Stanton precisa sair do circo, casado às forças com Molly (Coleen Gray), uma jovem artista da trupe. A mudança lhes faz bem, pois alcançam enorme sucesso com apresentações de adivinhação. A princípio, lotam casas noturnas, mas, logo, Stanton vê a oportunidade de ganhar mais dinheiro fazendo-se passar por médium para idosos ricos. Para isso, conta com a parceria da psicanalista Lilith (Helen Walker), que lhe revela os segredos de seus pacientes.

Sem cair na caricatura, cada uma dessas personagens representa um tipo de mulher. Zeena é como uma mãezona, que sempre quer o melhor para Stanton, mesmo que este não mereça. Já Molly faz a jovem ingênua profundamente apaixonada por Stanton. Inevitavelmente, sua pureza se torna um empecilho para os golpes do marido. Por fim, Lilith encarna a femme fatale do film noir, numa de suas versões mais dissimuladas e frias.

Ambição cega

Apesar de as mulheres servirem de ponte para que Stanton siga sua ambição desmesurada, ele alcançaria um destino trágico mesmo sem elas. Desde o início da história, ele usa seu dom de manipulação para pavimentar esse caminho. E, a cada conquista, mais longe ele deseja chegar. Até que ele vê tudo ruir por conta da má sorte prevista por Zeena nas cartas, pela moralidade natural de Molly, e pela derrota diante de uma antagonista mais habilidosa (Lilith).

O roteiro de Jules Furthman encerra o destino do protagonista num círculo que une o seu desfecho ao seu início. Na abertura, Stanton se impressiona com uma das atrações, o geek, o homem selvagem que enlouqueceu e come animais vivos. E, pergunta ao dono do circo: “Como alguém pode chegar a um ponto tão baixo?”. Os gritos do selvagem ecoam na mente de Stanton em momentos chaves do filme, simbolizando seu tormento pela culpa que sente pela morte de Pete.

Enfim, esse sentimento revela que, no fundo, Stanton é uma pessoa boa, por isso se penaliza por esse evento que foi, afinal, acidental. Além disso, a desilusão de chegar tão alto e cair vertiginosamente, traído por confiar numa pessoa que é seu duplo, o leva a um alcoolismo pior do que aquele de Pete. Stanton perde a lucidez, e se torna, ele mesmo, um novo geek de circo. Conhecendo a porção boa do protagonista, o espectador sente pena dele por sua degradação.

O filme poderia parar aí, mas fecha com uma forçada redenção ao lado de Molly. Provavelmente, uma exigência do estúdio, a 20th Century Fox.

Roteiro e direção

Mesmo assim, O Beco das Almas Perdidas permanece contundente. O roteiro se baseia no livro de William Lindsay Gresham, publicado em 1946. Ou seja, sob o pessimismo resultante da Segunda Guerra Mundial, que coloca em questionamento o caráter das pessoas. Aliás, o livro ganhou nova adaptação por Guillermo Del Toro, no ainda inédito O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, 2021).

Quando dirigiu esse filme, Edmund Goulding já apresentava uma longa carreira como diretor de cinema, iniciada em 1925. Realizara filmes de sucesso, como Anna Karenina (Love, 1927) e Grande Hotel (Grand Hotel, 1932), ambos protagonizados por Greta Garbo. Desta vez, volta a oferecer um protagonista de grande profundidade para Tyrone Power, após dirigí-lo em O Fio da Navalha (The Razor’s Edge, 1946). O ator tira o máximo proveito do papel e da estilização visual repleta de sombras nesse filme essencialmente noturno que reproduz a amargura de sua história. Dessa forma, com preponderante pessimismo, O Beco das Almas Perdidas não retrata o sonho americano, mas o pesadelo.

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Ficha técnica:

O Beco das Almas Perdidas | Nightmare Alley | 1947 | EUA | 110 min | Direção: Edmund Goulding | Roteiro: Jules Furthman | Elenco: Tyrone Power, Joan Blondell, Coleen Gray, Helen Walker, Taylor Holmes, Mike Mazurki, Ian Keith, Julia Dean, James Burke.

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Onde assistir "O Beco das Almas Perdidas":
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