A jornada de uma breve amizade entre três desgarrados move o filme sul-coreano O Caminho Para Sampo.
Os aventureiros Roh e Jeong se conhecem na estrada. Quando param em uma pequena taverna, aceitam a missão de buscar uma garçonete que fugiu com a bolsa da dona. Porém, ao encontrarem a moça, Baek-hwa, descobrem que ela é tão malandra quanto eles, e não conseguem levá-la de volta. Pelo contrário, após as rusgas iniciais, os três iniciam uma jornada juntos. Não há um rumo definido, mas Jeong (o personagem de chapéu), quer revisitar sua cidade natal Sampo.
Companheiros de aventura
O filme acompanha a camaradagem que nasce entre eles. Logo, praticam juntos seus truques, como no velório em que fingem conhecer o falecido, só para se aproveitarem da comida ali servida. Aliás, após serem desmascarados, fogem felizes pela neve, numa divertida cena que lembra os Beatles em O Rei do Ié-Ié-Ié (A Hard Day’s Night, 1964).
Então, como era de se esperar, surgem um interesse sexual entre eles. Porém, isso é resolvido da forma menos romântica: os dois homens decidem no jakenpon quem vai transar com ela. O filme mostra isso de forma inteligente: coloca os rapazes em primeiro plano, um em cada lado do quadro, e a moça ao fundo entre os dois. Em seguida, o diretor Man-hui Lee filma a cena de sexo com criatividade, começando com a fogueira na frente, entre as pernas abertas de Baek-hwa.
A moça acaba se apaixonando pelo seu amante de uma só noite. Mas, este não quer nada sério com ela, porque ela ganha a vida como prostituta. Por isso, os três seguem seus próprios caminhos, separados, mas em paz uns com os outros.
Cinema livre
O Caminho Para Sampo apresenta influências do cinema livre dos anos 1960, em especial do alegre e amalucado cinema inglês da swinging London e da nouvelle vague. Em particular, pelo uso do som. Alguns diálogos não correspondem às imagens que vemos na tela. Por exemplo, quando Roh e Baek-hwa estão na feira, para demonstrar que não há sintonia entre o casal. Além disso, em outros trechos, o que surpreende é a ausência total do som, recurso que mostra o desnorteamento de Baek-hwa quando ela percebe que os companheiros a abandonaram.
Quanto ao tema, a viagem sem rumo se aproxima daquela em Sem Destino (Easy Rider, 1969), e ambos remetem à geração anterior dos beatniks. Já os personagens parecem derivar do bando de mendigos sujos e divertidos de Dodeskaden – O Caminho da Vida (1970), de Akira Kurosawa.
Enfim, todos esses elementos se reúnem harmoniosamente pelo talento do diretor Man-hui Lee, no último filme de sua carreira. Esse cineasta começou a dirigir em 1961, e realizou a surpreendente quantidade de 51 filmes até 1975, quando veio a falecer. Man-hui Lee deixa como epitáfio cinematográfico O Caminho Para Sampo, uma belíssima aventura sentimental.
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Ficha técnica:
O Caminho Para Sampo | Sampoganeun kil | 1975 | Coréia do Sul | 95 min | Direção: Man-hui Lee | Roteiro: Dong-hun Yu | Elenco: Il-seob Baek, Jin Kiu Kim, Suk Mun, Ki-beom Kim, Yong-hak Kim.
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