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O Crime é Meu (filme)
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O Crime é Meu | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Existem diretores cuja irregularidade varia entre o mais baixo posto no julgamento artístico e o mais alto pico poético. Um efeito gangorra que faz o espectador se confrontar com o chão e bater a cabeça no teto.

Altman é um bom exemplo disso. Capaz do melhor (O Jogador, O Perigoso Adeus) e do pior (Imagens, Buffallo Bill and the Indians), por vezes o pior e o melhor se encontram no mesmo filme (Nashville).

François Ozon nunca chegou muito baixo, a não ser, talvez, em Nossa Linda Família (Sitcom, 1998), seu primeiro longa de ficção. Tampouco roçou o sublime, nem mesmo em seus melhores filmes: Sob a Areia (Sous le Sable, 2000) e Frantz (2016). Mas tem lá um pouco de Altman, embora com muito mais resultados negativos.

Em Meu Crime (Mon Crime, 2023), vemos Ozon mais uma vez no meio do caminho entre Bruno Dumont e Claude Chabrol. Por mais irregular que seja esse diretor, é frequente que consiga alcançar o primeiro. Mesmo em seus melhores trabalhos, jamais se equipará ao segundo.

De fato, este novo filme se aproxima de Chabrol em alguns poucos momentos, sobretudo no começo, na mansão refletida na água, e na citação à jovem Violette Nozière, personagem criminal que foi tema de um dos longas desse cineasta magnífico nos anos 1970. Como no filme de Chabrol, estamos diante de uma trama que envolve jovens moças e um assassinato.

Logo o clima de crime e farsa é substituído por o de uma comédia leve em que duas jovens tentam ganhar a vida em Paris e encontram a acusação como uma oportunidade de ganhar fama. Uma delas, Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz), é a principal suspeita do assassinato de um velho produtor de teatro, de quem era amante e que lhe prometeu um papel importante numa peça.

Assim que fica estabelecido esse tom, o filme desvia cada vez mais do caminho em direção a Chabrol, apesar das piscadelas, e pega um atalho para chegar a Jean-Pierre Jeunet. Ao espectador, só resta lamentar esse desvio da rota. Melhor ficar com Dumont no horizonte, que pelo menos é um diretor razoável.

Ozon se baseia numa peça homônima escrita por Georges Berr e Louis Verneuil e encenada em 1934. O diretor não procura esconder a raiz teatral em momento algum. O filme é baseado em diálogos e o que tem de mais cinematográfico está na reconstituição dos crimes pelo juiz interpretado por Fabrice Luchini. É quando vemos imagens em preto e branco e janela “antiga” (1.33:1), enquanto o restante do filme está em (2.35:1).

Não é um tormento ver Meu Crime, longe disso, mas não há nada especial nele. Mesmo o mais corriqueiro dos filmes de Chabrol, mestre do filme criminal francês, tem algo que nos tira o chão. Neste, vemos só fórmula: no desenrolar da trama, na trilha sonora genérica, na reconstituição de época. Tudo remete ao gosto médio francês, até mesmo a presença de Isabelle Huppert colabora para essa impressão. Nem vale como mais uma piscadela em homenagem a Chabrol, já que a atriz é quase onipresente.

Como são duas moças as protagonistas, o filme se torna também uma denúncia do machismo da sociedade patriarcal francesa. Na sequência do julgamento, por exemplo, são diversas as falas irônicas do promotor e de testemunhas, embora a crítica se enfraqueça pelo humor que predomina.

Normalmente o humor é uma ótima ferramenta para a crítica. Não neste caso. Estamos mais próximos de um programa de auditório para TV popular de horário nobre.

Todo o julgamento é contaminado por esse tom cômico tolo, baseado em caretas e planos de reação exagerados. A plateia aplaude e ri conforme o lado para o qual está torcendo. As interpretações são caricaturais. Se ao menos fizesse rir, ou nos contaminassem com graça…

A advogada de defesa, Pauline Mauleón (Rebecca Marder), também a melhor amiga da acusada, escreve o monólogo com o qual esta última, Madeleine, emociona os presentes no julgamento. É a atriz, portanto, que colhe os louros, tornando-se, finalmente e graças ao julgamento em que era ré, uma celebridade.

Há, então, questões colaterais da criação artística. Até que ponto o talento de quem executa vale mais do que o de quem elabora? De que modo uma atriz talentosa pode manipular a opinião pública? Pode uma atriz vencer plenamente num mundo controlado por homens?

Dado o tom escolhido pelo filme, essas questões mal são respondidas. Talvez nem tenham sido de fato pensadas. Até porque após o julgamento vemos uma nova mudança e as forças ficam mais equilibradas. As garotas revelam-se estrategistas cada vez melhores e encontram ajuda de homens não tóxicos.

No final das contas, Ozon se contenta em tentar fazer-nos rir com um divertimento esquecível como tantos que fizera anteriormente.

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Ficha técnica:

O Crime é Meu | Mon Crime | 2023 | França | 115 min | Direção e roteiro: François Ozon | Elenco: Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder, Fabrice Luchini, Isabelle Huppert, Dany Boon, André Dussollier.

Distribuição: Imovision.

Trailer:
Onde assistir:
O Crime é Meu (filme)
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