O Diário de um Maquinista desvenda um aspecto duro que poucos conhecem dessa profissão. Escolhido pela Sérvia para disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa foca no peso que os maquinistas de trem carregam por atropelarem várias pessoas durante sua carreira. Não se trata de crimes, pois são eventos não intencionais. Porém, se o tribunal não os julga, a consciência não perdoa.
O protagonista, Ilija, é um condutor de trem veterano, que já matou dezenas de pessoas no exercício de sua profissão. Para não sucumbir à sua consciência, endurece seu coração e não sente mais pesar pelas vítimas. Isso funciona com desconhecidos, mas ele carrega o trauma pela morte de pessoas queridas. Então, para não sofrer novamente, se torna insensível. Ou seja, prefere não amar mais ninguém.
Contudo, Ilija acaba adotando um menino órfão de dez anos, Sima, que queria se matar atropelado por seu trem. O maquinista acolhe e educa o menino, mas evita se aproximar demais dele. Portanto, nada de beijos e abraços, muito menos ser chamado de pai. Quando se torna adulto, Sima quer ser maquinista também, mas Ilija o proíbe, pois deseja poupá-lo dos sofrimentos da profissão.
Comunidade
O filme revela que ser maquinista de trem é muito mais que um trabalho qualquer. Além dos efeitos psicológicos oriundos de acidentes, ou por causa deles, os maquinistas vivem juntos, ao lado dos trilhos de trem. Inclusive, o casal de amigos de Ilija mora até em um vagão transformado em casa. E, todos em comunidade, habitando o mesmo terreno e compartilhando as refeições em uma grande mesa.
Assim, em sintonia com essa comunhão que torna ameno o convívio com esses traumas oriundos dos acidentes nessa comunhão, o filme prefere assumir um tom leve. Como resultado, seus momentos de maior emoção se apoiam nos alicerces dos filmes de ação. Por exemplo, quando Sima se desespera ao assumir sozinho o comando de um trem pela primeira vez. Ou então, no clímax final, que se apropria também do suspense.
Dessa forma, O Diário de um Maquinista consegue atingir um público amplo, que se encantará com o amadurecimento da relação de pai e filho entre Ilija e Sima. Ao mesmo tempo, com a tardia aceitação das perdas de pessoas amadas causadas por Ilija, e que ainda o atormentam. Quando ele para de ter visões com uma das vítimas é que a história revela que ele atinge a paz interior.
O experiente diretor Milos Radovic já dirigiu vários filmes e séries para a TV, mas este é apenas o seu quinto longa para o cinema. Talvez O Diário de um Maquinista garanta a notoriedade internacional que ainda lhe falta.
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Ficha técnica:
O Diário de um Maquinista (Dnevnik masinovodje) 2016. Sérvia/Croácia. 85 min. Direção e roteiro: Milos Radovic. Elenco: Lazar Ristovski, Petar Korac, Pavle Eric, Mirjana Karanovic, Jasna Djuricic, Mladen Nelevic, Nina Jankovic, Danica Ristovski.
Distribuição: A2 Filmes.
