O Padre Gabriele Amorth, protagonista de O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist), realmente existiu. E escreveu vários livros sobre suas experiências com exorcismo. Aliás, o recém-falecido William Friedkin, diretor de O Exorcista (The Exorcist, 1973), filmou o documentário The Devil and Father Amorth (2017), pouco antes da morte do padre.
Quem o interpreta em O Exorcista do Papa é Russell Crowe. Escolha mais que acertada, pois o ator traz uma presença imponente, inclusive por seu físico, que já o distingue de tantos outros padres do cinema. Além disso, Amorth é engraçado e muito seguro de si, resultando numa atuação carismática que chega a lembrar o saudoso Sean Connery (especialmente em O Nome da Rosa [The Name of the Rose, 1986]). Crowe convence até mesmo nas suas falas em italiano, embora provavelmente com um sotaque carregado que os fluentes no idioma devem identificar. Mas é essa caracterização que evita que o filme se torne sombrio demais. A ênfase em criar um protagonista tão fora do comum remete até a produções seriadas, que acima de tudo dependem de personagens fortes.
Aterrorizante
Apesar de não ser extremamente sombrio, o terror marca presença assustadora no filme. Em parte, porque o casting acerta também na escolha do estreante Peter DeSouza-Feighoney para o papel de Henry. Antes mesmo de ser possuído, o menino de uns oito anos já parece bem assustador. Mas, com razão, pois ele não passa por um bom momento. Testemunhou a morte do pai num carro de acidente, há um ano, e desde então não fala mais. E o enredo amarra bem esse trauma para justificar como sendo a fraqueza que o torna suscetível à possessão. Com o diabo em seu corpo, o garoto ganha arranhões no rosto (que ele mesmo provoca), feições deformadas (com eficiente trabalho de maquiagem), olhos amarelos ou vermelhos que viram, e voz demoníaca. Some tudo isso a suas expressões corporais e temos como resultado um possesso aterrorizante.
O cenário principal adiciona mais elementos assustadores. A trama se passa em 1987, na Espanha, numa antiga abadia que a viúva Julia (Alex Essoe) herda de seu marido falecido. Sua ideia é reformar o imóvel para vendê-lo e, por isso, se muda temporariamente para lá com Henry e sua filha adolescente Amy (Laurel Marsden). Repleto de imagens sacras e ainda uma catacumba escondida no subsolo, concordamos com os operários da obra que se recusam a trabalhar porque o lugar dá calafrios. E como o filme apenas se baseia na figura do Padre Amorth, não há limites para as ideias fantasiosas dos roteiristas, que criaram uma interessante trama que insinua que o poder do demônio foi responsável pelas atrocidades da Inquisição Católica. Vale lembrar que essa ligação entre História e terror ficcional também marcou outro bom filme do gênero lançado neste ano – O Convento (Consecration, 2023), de Christopher Smith. Talvez seja uma tendência a surgir em mais produções.
Forças do mal
Porém, como acontece na maior parte dos filmes sobre exorcismo, a vítima da possessão, que acaba desfigurada e representa um potencial de perigo imprevisível, concentra o que há de mais assustador. No entanto, quando ele age, sempre gera uma frustração sobre como machucar as pessoas. Aqui, são forças invisíveis que arremessam ou estrangulam – pouco, para o que poderia acontecer. Nesse aspecto, a cena da mãe sendo sugada para dentro da cama é o ponto mais fraco do longa – uma ideia batida e aqui mal executada.
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Ficha técnica:
O Exorcista do Papa | The Pope’s Exorcist | 2023 | 103 min | EUA | Direção: Julius Avery | Roteiro: Michael Petroni, Evan Spiliotopoulos | Elenco: Russell Crowe, Daniel Zovatto, Alex Essoe, Franco Nero, Peter DeSouza-Feighoney, Laurel Marsden, Cornell John, Ryan O’Grady, Bianca Bardoe.
Distribuição: Sony Pictures.
Trailer aqui.