O Fanático traz John Travolta como um stalker infantilizado que é maltratado por seu ídolo mentalmente desequilibrado.
Moose é um homem com deficiências intelectuais. De fato, sua aparência, desde o corte de cabelo, até as roupas, evidencia sua falta de habilidade social que se confirma em qualquer interação com outras pessoas. Infantilizado, ele sofre bullying de outros artistas que, como ele, se apresentam para os turistas na Hollywood Boulevard.
Moose & Hunter
Então, suas emoções são canalizadas para a idolatria ao ator Hunter Dunbar. A primeira cena ilustra isso quando ele compra um colete que o ídolo usou em um filme por US$ 300, uma fortuna para quem ganha tão pouco como ele. Moose deseja desesperadamente um autógrafo de Dunbar, mas se comporta grosseiramente quando fica frente a frente com ele, de tão emocionado que fica.
Acontece que Dunbar tem pavio curto, e nenhum apreço sincero por seus fãs, ou mesmo por outras pessoas. Então, trata mal Moose, que não desiste e procura o ídolo na casa dele. Apesar de negar, Moose se torna um stalker, e vai cada vez mais invadindo a privacidade do ator, chegando até a entrar em sua casa. Como Dunbar é desequilibrado mentalmente, tudo acabará em uma violenta tragédia.
Esses dois personagens principais são totalmente caricaturais, porque o filme não se aprofunda nas origens desse comportamento deles. Moose é visto em um rápido flashback, quando ainda criança assiste a A Noite dos Mortos Vivos (1968) na televisão, enquanto sua mãe vai para o quarto com um homem que, aparentemente, é seu amante. A intenção do roteiro é que esse breve trecho explique o comportamento atual desse personagem, o que obviamente é uma simplificação preguiçosa.
Quanto a Hunter, vemos que a situação de separação conjugal recente e guarda do filho o deixa com os nervos à flor da pele. Porém, segundo uma rápida aparição da ex-mulher, ele costuma não se importar com as pessoas. E o filme insiste nessa faceta do ator quando ele beija a empregada, numa situação de assédio que parece que já acontece há um bom tempo.
Análise
Porém, nenhuma dessas construções superficiais servem de base para a parte final de O Fanático, quando a violência rola desenfreada, principalmente por parte de Hunter. E o diretor Fred Durst erra ao optar por uma elipse que desperdiça o que poderia ser um forte momento de suspense, que seria mostrar Moose invadindo a casa do ídolo para submetê-lo a um confrontamento. Com apenas dois longas-metragens no currículo – The Education of Charlie Banks (2007) e The Longshots (2008) – e vários vídeo-clipes, Durst mostra pouco talento em sua terceira investida no cinema.
E a surpresa final, que condena Hunter e absolve Moose, é decepcionante. Afinal, no primeiro depoimento, com um simples exame de sangue, o ator poderá provar sua inocência em relação ao crime que aconteceu em sua propriedade. Então, é uma daquelas conclusões frágeis que não amarram firmemente o enredo, deixando várias pontas soltas.
___________________________________________
Ficha técnica:
O Fanático (The Fanatic, 2019) EUA. 88 min. Dir: Fred Durst. Rot: Fred Durst, Dave Bekerman. Elenco: John Travolta, Devon Sawa, Ana Golja, Jacob Grodnik, James Paxton, John Richman, Jeff Chase, Luis Da Silva Jr., Jessica Uberuaga, Rene Michelle Aranda, Marta González Rodin.