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O Homem dos Sonhos (poster do filme)
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O Homem dos Sonhos

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

O Homem dos Sonhos (Dream Scenario) possui uma premissa instigante. Um homem totalmente ordinário, Paul Matthews (Nicolas Cage), começa a aparecer nos sonhos de várias pessoas e se torna uma celebridade. Com isso, sua vida parece melhorar, até que as coisas mudam de rumo, e ele surge como o vilão do pesadelo no inconsciente coletivo. Só esse breve resumo já é suficiente para vislumbrar as várias possibilidades que essa ideia pode render. Porém, o diretor e roteirista norueguês Kristoffer Borgli não consegue desenvolvê-la, e desperdiça todo o potencial que tinha em mãos.

E o filme começa muito promissor. Sem perder tempo, descobrimos que Paul é pai de família (esposa e duas filhas, uma adolescente e uma pré-adolescente) e professor, bem sem graça em tudo que faz. Sua rotina chata começa a ruir com pessoas que alegam tê-lo visto em seus sonhos. Todos dizem que ele aparece em uma situação de perigo, mas não faz nada para ajudar. Primeiro, alunos seus, depois, desconhecidos. Logo, as aparições escalam, viralizam e ele fica famoso. A parte boa do filme dura até a reunião de Paul com uma agência de marketing, que apresenta as oportunidades de ele ganhar muito dinheiro aproveitando sua imagem. Para ele, o que mais importa é a chance de publicar seu livro de biologia.

O ponto de virada

Então, o filme começa a se perder com o ponto de virada da trama. Indefinido, esse trecho parece mirar em várias direções. Nele, Paul aceita concretizar o sonho erótico de Molly (Dylan Gelula), mas a empreitada fracassa. Pelo menos três significações surgem dessa experiência. Primeiro, que os sonhos são diferentes da realidade. Segundo, que pela primeira vez Paul participa de um sonho com atitude proativa. E, por fim, o protagonista faz algo errado, pois tenta trair a esposa. Será que era melhor ele ser uma pessoa passiva, já que quando toma atitude demonstra que é uma pessoa má? Talvez, mas o que vem a seguir demonstra que O Homem dos Sonhos não quer (ou não consegue) se aprofundar nisso.

O caminho mais raso

Assim, o roteiro pega o caminho mais raso. E usa a terceira significação como motivo para que Paul comece a aparecer como um agressor violento nos pesadelos das pessoas. Se essa mudança de 180 graus resultasse de uma origem mais sólida, algo que fizesse Paul se arrepender profundamente da forma como agiu, essa transição de herói para vilão soaria mais consistente. Poderia, então, indicar que a consciência individual pode causar efeitos na psicologia das massas, ou algo do tipo. Mas o filme prefere não se mergulhar nisso e lança a ideia do cancelamento social como novo tema da trama. Contudo, apenas joga essa proposição sem tampouco desenvolvê-la.

Ainda na base da simplificação geral, o fenômeno cessa, sem explicações. Isso até seria tolerável, como final aberto para que os espectadores tirassem suas próprias conclusões. Porém, o longa degringola de vez em sua parte final, que adentra dento da ficção-científica com um equipamento disruptivo que permite que uma pessoa entre nos sonhos de outra. Nem parece fazer parte do mesmo filme, e uma narração força a ligação com o que foi apresentado até então, alegando que a ideia do dispositivo surgiu por causa do fenômeno Paul Matthews. A verdade é que, dessa forma precipitada, Kristoffer Borgli revela que não sabia como terminar a história que criou. E jogou no lixo tudo o que apresentou até então.

Um produto A24

Pelo menos, Kristoffer Borgli dirige sem apelar para a câmera na mão o tempo todo, tão comum em filmes contemporâneos que querem se destacar como sendo de prestígio. Ainda mais porque O Homem dos Sonhos é uma produção da A24, estúdio que força essa classificação em seus lançamentos. Aliás, por isso vemos cenas que tentam chocar pela violência (a imagem do homem alto sem pele e os ataques de Paul nos pesadelos) ou pelo humor inusitado (os peidos na tentativa de fazer sexo). Dessas características da A24, Borgli não conseguiu escapar.

Em suma, a primeira parte vale a pena. Depois, surge uma virada pouco convincente, mais preocupada em fazer rir do que apresentar uma motivação sólida para o que virá a seguir. A segunda parte se sustenta por mostrar os absurdos efeitos do cancelamento. No entanto, a parte final é um absoluto desastre.

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Ficha técnica:

O Homem dos Sonhos | Dream Scenario | 2023 | 102 min | EUA | Direção: Kristoffer Borgli | Roteiro: Kristoffer Borgli | Elenco: Nicolas Cage, Julianne Nicholson, Michael Cera, Tim Meadows, Dylan Gelula, Dylan Baker, Lily Bird, Jessica Clement, Krista Bridges, Kate Berlant.

Distribuição: California Filmes.

O filme estreia dia 28 de março de 2024 nos cinemas.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
O Homem dos Sonhos (cena do filme)
O Homem dos Sonhos (cena do filme)
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