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O Irlandês (filme)
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O Irlandês

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

O Irlandês é um deleite para os fãs do diretor Martin Scorsese.

Scorsese tem uma relação especial com o subgênero dos filmes sobre máfias. Afinal, começou a ser reconhecido com Caminhos Perigosos em 1973, se solidificou com Os Bons Companheiros de 1990, reafirmou seu prestígio com Cassino em 1995. Por fim, ganhou seu Oscar de melhor diretor por Os Infiltrados em 2006.

Agora, O Irlandês novamente coloca Scorsese em contato com a máfia.

Esse novo filme, produzido para a Netlix, possui um tom de homenagem ao gênero que proporcionou tanto prestígio ao diretor. Em sintonia com a passagem do tempo, O Irlandês coloca na tela personagens com idade madura. Dessa forma, abre a oportunidade para trazer de volta para seu set de filmagem velhos colegas daquelas primeiras incursões de Scorsese no tema.

Assim, Robert De Niro vive o protagonista do título, Frank Sheeran. E, Joe Pesci saiu de sua aposentadoria para viver seu amigo e mentor, Russell Bufalino. Já Harvey Keitel é o chefão de uma das gangs italianas. Finalmente, pela primeira vez, Al Pacino trabalha com Scorsese, por mais surpreendente que isso seja.

Al Pacino como Jimmy Hoffa

Pacino interpreta Jimmy Hoffa, o líder sindicalista que realmente existiu e cuja vida já virara filme antes, em Hoffa – Um Homem, Uma Lenda (1992), protagonizado por Jack Nicholson. Hoffa possuía conexão com a máfia e, por isso, ele vem a conhecer Frank Sheeran, a quem contrata como segurança e depois apoia para que tenha uma carreira no sindicalismo também. Sheeran é apreciado pelos poderosos da máfia, por ser eficaz e muito leal. Mas esta última qualidade será fonte também de suas angústias.

Mesmo começando a contar a trajetória de Sheeran já não tão novo, quando ganhava a vida desviando a carga dos caminhões que dirigia, o filme possui dimensões épicas, com suas três horas e meia de duração. Somos apresentados ao protagonista no melhor estilo de Scorsese. A câmera avança para dentro de um asilo de luxo, em um plano sequência que leva até onde Sheeran se encontra, e inicia a narração de sua estória para alguém que não vemos, talvez para nós mesmos. Mais dois planos sequência estão presentes no filme, remetendo principalmente à emblemática cena de Os Bons Companheiros, ainda mais com a trilha sonora repleta daquele rock ingênuo dos anos 1950, que contrasta com a violência do tema.

Leve tom humorístico

Além da trilha sonora, O Irlandês injeta um humor leve em alguns trechos. Usada como código, a frase que identifica o trabalho de Sheeran é “pintar casas”. Isso vem do nome original do livro de Charles Brandt que deu origem ao filme: “I Heard You Paint Houses”. Na primeira vez que essa expressão surge no filme, vemos na tela o mafioso dando um tiro na cabeça de uma de suas vítimas e o sangue dela jorrando numa parede, ou seja, pintando-a. E essa frase aparece na tela escrita em letras que ocupam quase a tela toda. E isso mostra que Scorsese sabe que está filmando para a tela menor da televisão e não para o cinema.

Aliás, talvez seja humor negro, ou uma indicação da violência desse meio, mas, sempre que surge um personagem secundário envolvido com a máfia, na tela aparece escrito o seu nome e a data em que morreu, acompanhada da causa mortis.

Com destaque, Scorsese constrói uma belíssima cena de suspense envolvendo a esposa de Hoffa. Depois de duas sequências de carros explodindo como meio de intimidação entre gangues rivais, a mulher entra no seu carro e se dá conta que ela pode ser a próxima vítima. Então, sem ser necessário sequer uma palavra para comunicar esse medo, a vemos lentamente girar a chave da ignição, criando um suspense enorme no espectador.

Crimes não desvendados

Por outro lado, a história do filme oferece o mesmo desafio que Quentin Tarantino enfrentou no seu recente Era Uma Vez em Hollywood (Once Upon a Time in Hollywood, 2019). Ou seja, os dois filmes lidam com pessoas famosas reais que foram assassinadas em crimes não desvendados. Assim, o roteiro precisa lidar com o fato de que o público já tem a informação sobre o assassinato de um dos protagonistas, por outro, há certa liberdade para escolher quem o matou e como. Se Tarantino preferiu mostrar uma possibilidade quase fantasiosa, Scorsese optou pelo que era mais factível. Dessa forma, ambos acertaram porque foram fiéis aos seus estilos.

Por fim, Scorsese, inteligentemente, reforça sua teoria com uma simbólica tomada onde Sheeran está em seu quarto no asilo, e a câmera, do corredor, o mostra pela porta meia aberta. A verdade sobre o que aconteceu, ele nunca confessou. Para nós que estamos de fora, resta apenas a meia verdade.

 

O Irlandês (filme)
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