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Era Uma Vez em Hollywood (filme)
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Era Uma Vez em Hollywood

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Em Era Uma Vez em Hollywood, Tarantino se reinventa. Mas continua Tarantino.

Para começar, Era Uma Vez em Hollywood traz duas horas deliciosas sobre a vida dos atores de cinema e TV na Los Angeles do final dos anos 1960. E, depois, a violência cresce até explodir nas telas em proporções propositalmente absurdas.

O novo filme escrito e dirigido por Quentin Tarantino mistura fatos e ficção. Deste último grupo surge a história de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), um ator de filmes e seriados de ação, famoso na década anterior, que está perdendo prestígio, e Cliff Booth (Brad Pitt), seu dublê e amigo. Em paralelo, a história real de Sharon Tate, jovem atriz em ascensão casada com o diretor Roman Polanski. No filme, Polanski é vizinho de Rick Dalton.

Então, as duas histórias se cruzam em dois momentos. Um no começo do filme, quando Polanski e Tate param o carro por uns instantes antes de atravessarem o portão da casa deles, e Rick e Cliff estão no carro ao lado. Depois, só na última cena do filme.

Carreira em declínio

Rick Dalton percebe que, com a idade, deixou de ser protagonista de filmes e seriados. Agora, resta a ele participações especiais em produções novas com outros atores no papel principal. É como alerta o produtor Marvin Schwarz (Al Pacino), que diz que os estúdios de televisão recorrem a essas pequenas participações para aposentar algum ex-astro gradativamente. Por isso, Schwarz lhe oferece contratos para atuar na Itália, nos spaghetti westerns, como estrela principal. Porém, Dalton está relutante em aceitar por considera-las produções de menos prestígio.

O ator Brad Pitt deve ter gostado de seu trabalho em Queime Depois de Ler, filme dos Irmãos Coen no qual ele interpreta um personagem caricato. Afinal, em Era Uma Vez em Hollywood, seu Cliff Booth é um personagem divertidamente impossível de existir na vida real. Fora das telas, o dublê é todo poderoso. Bonitão, corajoso, forte… Booth é indestrutível. É tão bom de briga que dá uma surra até no Bruce Lee. Além disso, é fiel ao patrão e amigo.

Sharon Tate

Quanto a Sharon Tate, Tarantino quer que o espectador se apaixone por ela e, consequentemente, lamente o seu destino trágico na vida real. Margot Robbie está encantadora na tela, e sua Sharon Tate é uma garota de bom coração, ingênua e vivendo um estado de felicidade por sua carreira como atriz estar em evolução. Aliás, a cena no cinema de Westwood reflete essa imagem com primor.

A manipulação do público (no bom sentido) de Quentin Tarantino não se restringe à empatia com Sharon Tate. O diretor é consciente que seu público sabe que seus filmes costumam mudar de tom, como se partissem dentro de um gênero cinematográfico e fossem transferidos para outro. O roteiro de Tarantino para Um Drink no Inferno (1996) é um bom exemplo dessa característica sua, pois começa com um faroeste e se transforma em um filme de terror.

Diversão

As duas primeiras horas e pouco de Era Uma Vez em Hollywood mostram um filme divertido sobre a carreira do ator em Los Angeles, repleta de citações e referências ao cinema e à televisão. Mas quando Cliff Booth é atraído por Pussycat (Margaret Qualley) para a comunidade hippie em Spahn Ranch, essa sequência é repleta de suspense. Principalmente para aqueles espectadores que conhecem o assassinato de Sharon Tate e seus amigos, porque eles perceberão que o líder desse local tem o nome de Charlie e que ele é Charles Manson, o mentor desse crime. As moradoras queriam apresentar Booth a ele, mas ele está ausente. Tarantino faz o público acreditar que algo muito sinistro está escondido na cabana do proprietário do local, e cria um clima envolvente nessa cena.

O final do filme surpreende o público, que, durante toda sua exibição, fica na expectativa de ver o assassinato da ingênua Sharon Tate a qualquer momento.

Duas leituras possíveis

Era Uma Vez em Hollywood é um filme que permite, no mínimo, duas leituras.

Uma interpretação indica que o filme é uma vingança impossível do diretor. O que aconteceu não pode ser desfeito. Portanto, Tarantino constrói seu filme, em especial seu final, do jeito que ele gostaria que tivesse acontecido aos assassinos de Tate e seus amigos. Isso explica o motivo de tanto sadismo na violência exagerada dessa cena final. A conclusão do filme ignora os fatos e Sharon Tate sobreviveria.

Na outra leitura fílmica possível de Era Uma Vez em Hollywood, Tarantino critica a violência contra os hippies. Nesse sentido, o ataque violento de Dalton e Booth contra os hippies que invadiram a casa do ator é uma metáfora do modo como a sociedade os tratava. Na visita de Booth à comunidade, o dublê demonstra desconfiança e age com brutalidade desproporcional. No filme Sem Destino, de Dennis Hopper, lançado alguns meses antes do assassinato de Sharon Tate, os hippies são atacados enquanto dirigiam pacificamente suas motocicletas. Aqui, vemos esse ódio imotivado quando Dalton provoca o hippie que invade sua rua particular chamando-o de Dennis Hopper.

Concluindo, essa possível análise entenderia que a morte de Sharon Tate foi resultado dessa violência contra um movimento que começou pacifista e depois descambou para o confronto, com atos violentos das duas partes durante 1968. Nesse caso, Sharon Tate, seus três amigos e Dalton seriam assassinados em seguida, quando a turma de Manson retornaria para se vingar.

Uma vez Tarantino…

Por outro lado, nesse filme, Quentin Tarantino abandona os diálogos sobre temas banais, uma de suas marcas registradas. E prefere provar que possui talento para dirigir um filme que não é de ação. Por isso, suspende a violência durante duas horas deliciosas sobre a vida em Los Angeles no final dos anos 1960. Contudo, depois… volta a ser Tarantino.


Era Uma Vez em Hollywood (filme)
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